terça-feira, 16 de outubro de 2018

Rogai por nós, Nick Cave!


                                                    Foto de David Nat


Entre os primeiros shows realizados por Nick Cave no Brasil em 1989 e seu retorno triunfal ao país domingo passado, existe um ‘vácuo’ de quase 30 anos. 

Neste meio tempo, ele se apaixonou por uma paulistana, casou, teve um filho brasileiro, viveu em São Paulo por três anos, mudou-se para a Inglaterra, divorciou-se, casou de novo, foi pai de gêmeos, perdeu um deles tragicamente, esteve presente em filmes e documentários, escreveu uma penca de livros e gravou dezenas de discos.

O Brasil passou por Collor de Mello, impeachment, Itamar Franco, Plano Real, FHC (duas vezes), Lula (duas vezes), Dilma, impeachment (de novo), Michel Temer e mais uma vez estamos numa sinuca de bico numa eleição polarizada e obscurantista.



Luto
Nick voltou ao nosso país nesse ambiente de incertezas. O músico, que passou por um período de luto nos últimos anos por causa da morte de um dos filhos, testemunhou (mais uma vez) as nuvens cinzentas que pairam sobre nossas cabeças.

Neste cenário dantesco, não é de se admirar que o show que ele realizou domingo no Espaço das Américas em SP, parecia mais como uma missa. Nick sempre foi um sujeito religioso, mas parece que nos últimos anos, assumiu de vez a persona de um pastor de ovelhas desgarradas.

Elo perdido entre Iggy Pop e Leonard Cohen, sua presença hipnótica no palco levou o público à loucura, numa catarse dionisíaca e arrebatadora.




Amor e caos
O cantor disse mais de uma vez ao microfone que estava rezando pelo Brasil, um país excepcional nas suas palavras, mas o qual manteve uma distância segura por anos. Seu retorno bombástico ajusta contas com um passado um tanto nebuloso.

O público foi facilmente seduzido por esse fauno magrelo, de cabelos pintados e terno justíssimo. A tempestade sonora de sua banda, a Bad Seeds, foi a trilha ideal para embalar aqueles anjos decaídos, sedentos de amor e caos.

Ao contrário de Roger Waters, tentou evitar temas políticos, mas o público o incitou a entoar o #elenao. Se rendeu timidamente, talvez por compaixão àquela gente.


Beijo
Juro que no momento em que Nick beijou um dos fãs que estava no palco ao seu lado, tive vontade de chorar. Aquilo pra mim foi simbólico, como se ele nos prepara-se para o grande apocalipse que vem por aí.

Amém, irmão Nick, amém...




N da R.: A excelente foto que abre esse post é do fã David Nat, um dos sortudos convidados por Nick a subir ao palco durante o show em SP. 

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