quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Os melhores de um ano caótico!

Sim, gente amiga, Saturno Pop também organizou uma lista dos melhores do ano. A diferença é que em tempos virtuais, resolvemos resumir as escolhas pra não encher o saco do leitor com aquelas listas intermináveis de discos e artistas que quase ninguém conhece.

Nesta seleção minimalista, os veteranos mais uma vez ganharam destaque entre as melhores coisas lançadas nesse ano problemático, caótico e crítico em nossas vidas. Vamos lá:

DISCO DO ANO: Wooden Shjips – V
Não parei de ouvir esses caras desde que lançaram seu quinto disco em maio passado. ‘V’ é psicodélico, mas não é retrô, tem um frescor crocante e saboroso, para se ouvir numa autoestrada em direção a Marte.



MÚSICA DO ANO: ‘Relax’ – Kassin
Alexandre Kassin é mais conhecido por seu trabalho como produtor dos discos dos Los Hermanos, mas o cara compõe e também grava material próprio. A faixa ‘Relax’ dá título ao seu novo disco e a um clipe engraçadíssimo. Veja aqui:



SHOW DO ANO: Nick Cave & The Bad Seeds – Espaço das Américas
Não tem pra ninguém, o show de Nick Cave no Espaço das Américas em São Paulo foi algo perto do sublime. Uma missa comandada por um anjo caído, tomado por amor, luto e redenção. Sensacional!



REVIVAL DO ANO : MC50th
Wayne Kramer, o único sobrevivente da formação original do grupo proto-punk MC5, de Detroit, juntou-se a músicos do Soundgarden, Fugazi e King X para uma turnê celebrando os 50 anos do lançamento do primeiro disco da banda, o maravilhoso ‘Kick Out The Jams’. Veja que belezura:



DISCO COVER DO ANO: ‘Fudge Sandwich’ – Ty Segall
Ty Segall é tão bom que até um disco de covers fica bom em suas mãos. Destaque para a versão funk garageira de ‘I’m a Man’ do Spencer Davis Group, o clima fantasmagórico de ‘Isolation’ (John Lennon), e a subversão punk rock de ‘The Loner’ (Neil Young). Ouçam aqui: 



É isso! Feliz Natal e próspero Ano Novo!!


quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Da Boca do Lixo para o mundo



Este mês comemoram-se os 50 anos de um dos melhores e mais anárquicos filmes nacionais de todos os tempos. Estou falando de 'O Bandido da Luz Vermelha', dirigido por Rogério Sganzerla no auge de seus 22 aninhos.

Muito já se falou sobre esse filme, mas o fato é que ele tinha tudo pra ser um fracasso retumbante.  Maluco, desrespeitoso, radical, pop e visceralmente terceiro mundista, o longa inspirado na vida do criminoso João Acácio Pereira da Costa foi o que os especialistas chamariam de um inesperado 'case de sucesso'.

Filmado na região da Boca do Lixo em São Paulo, terreno fértil para a pornochachada anos depois, a 'fita' de Sganzerla levou milhares de brasileiros ao cinema, contrariando a lógica de que película de autor era prejuízo na certa em nosso país. Vide as obras consagradas porém pouco lucrativas da turma do Cinema Novo.

Paulo Villaça encarnando o Bandido nas telas nacionais 
Vaca Sagrada 
Aliás, o sucesso de Sganzerla irritou ninguém menos do que Glauber Rocha, vaca sagrada das igrejas cinemanovistas. Glauber esculachou o jovem cineasta, dizendo que sua obra-prima era pastiche do cinema underground novaiorquino, e chamou aquele novo movimento tupiniquim de 'cinema udigrudi'. Inveja, claro!

Entrevistei Sganzerla em 1996 pra falar sobre João Acácio, o verdadeiro Luz Vermelha que havia deixado a cadeia depois de 30 anos. Por telefone, meu herói/cineasta se comunicava de um jeito meio estranho no quarto de um hotel em Gramado, onde concorria a algum prêmio.

Comparei seu filme a 'Pulp Fiction' de Tarantino, a sensação cinematográfica naqueles anos e Sganzerla não achou muita graça. Começou um discurso mezo sócio-artístico-anárquico que me lembrou ninguém menos do que o próprio Glauber Rocha, seu ídolo e nêmesis. 

Rogério Sganzerla: diretor e roteirista do filme que lhe deu fama e glória 
Reconhecimento
João Acácio foi logo depois assassinado em sua terra natal, Joinville. Rogério Sganzerla,  que era catarinense, morreu de câncer em 2004, sentindo-se injustiçado e lembrado sempre como o diretor de uma obra só. O que não é verdade, já que dirigiu outros longas que, infelizmente, não chegaram ao reconhecimento de sua estréia.

O longa ganhou uma versão dirigida pela atriz e viúva de Sganzerla, Helena Ignez, em 2010, chamada  'Luz das Trevas', mas nem me atrevi a ver. Clássico é cllássico, pô!

Conheci 'O Bandido da Luz Vermelha' graças ao disco 'Psicoacústica' do Ira! que era assumidamente influenciado pelo filme e trazia trechos de áudios da película. Nunca mais fui o mesmo e meu amor pelo cinema brasileiro começou ali, aos trancos e barrancos.  Vida longa ao 'Bandido da Luz vermelha' e a Rogério Sganzerla!!!






quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Festa pós-punk no interior



Se alguém me dissesse anos atrás que bandas como Gang of Four e New Order fariam shows em Ribeirão Preto e Uberlândia eu iria morrer de rir. Pois bem, essas duas verdadeiras referências do pós-punk inglês vão estar ao vivo e a cores nos palcos do interior paulista e mineiro neste final de mês.

A Gang of Four toca neste sábado, dia 24, no Galpão de Eventos do Sesc Ribeirão Preto, e o New Order se apresenta dia 30 na Arena Sabiazinho de Uberlândia. A coisa fica ainda mais surreal se imaginarmos que o resto da turnê nacional desses dois ícones dos anos 1980 se limita a metrópoles como São Paulo e Curitiba. E só.


Flashback
Veja bem, não estamos falando de grupelhos gringos decadentes que resolvem reunir alguns hits meia bomba pra festas flashbacks pelo Terceiro Mundo. G4 e NW juntos influenciaram mais bandas no planeta do que toda a turma de Seattle e mais até do que grupos como o Queen, por exemplo.

Para uma região tomada pela música sertaneja e pelo cover, a presença dessas duas lendas britânicas merece uma verdadeira procissão. Ambos foram pioneiros em suas áreas e deixaram um legado único e permanente.


Funk punk
Vejamos a Gang of Four. Tudo bem que hoje o quarteto de Leeds se resume ao genial guitarrista Andy Gill e um trio de jovens que ele arrumou para substituir os parças Dave Allen (depois Sarah Lee), Jon King e Hugo Burnham. Mas vê-los em ação tocando clássicos como ‘Damaged Goods’, ‘At Home he’s a Tourist’, ‘To hell with Poverty’ já vale muito mais do que o preço do ingresso (módicos 17 reais!!!!).

O ‘funk punk’ energético, marxista e esquizofrênico do G4 influenciou muita gente: U2, New Model Army, The Cure, Rage Against the Machine, Jesus Lizard, Rapture, Franz Ferdinand e Artic Monkeys são alguns nomes lá fora que morrem de amores pelos caras. E por aqui, grupos como Legião Urbana, Titãs, Mercenárias e Plebe Rude beberam na fonte.


Manchester
New Order nem se fala. Nascida das cinzas do Joy Division, a banda colocou a cidade de Manchester no mapa mundial e tirou o pós-punk do underground para entregá-lo de bandeja ao grande público. Isso tudo sem nunca abrir mão de sua originalidade e independência.

G4 e NW merecem total reconhecimento pelo que representam para a música pop. Assisti-los longe dos grandes centros pode ser um claro sinal de que nem tudo está perdido no deserto cultural que persiste por essas plagas. Que as novas gerações de artistas e produtores tenham esses shows como exemplo. Saravá!!!

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Rogai por nós, Nick Cave!


                                                    Foto de David Nat


Entre os primeiros shows realizados por Nick Cave no Brasil em 1989 e seu retorno triunfal ao país domingo passado, existe um ‘vácuo’ de quase 30 anos. 

Neste meio tempo, ele se apaixonou por uma paulistana, casou, teve um filho brasileiro, viveu em São Paulo por três anos, mudou-se para a Inglaterra, divorciou-se, casou de novo, foi pai de gêmeos, perdeu um deles tragicamente, esteve presente em filmes e documentários, escreveu uma penca de livros e gravou dezenas de discos.

O Brasil passou por Collor de Mello, impeachment, Itamar Franco, Plano Real, FHC (duas vezes), Lula (duas vezes), Dilma, impeachment (de novo), Michel Temer e mais uma vez estamos numa sinuca de bico numa eleição polarizada e obscurantista.



Luto
Nick voltou ao nosso país nesse ambiente de incertezas. O músico, que passou por um período de luto nos últimos anos por causa da morte de um dos filhos, testemunhou (mais uma vez) as nuvens cinzentas que pairam sobre nossas cabeças.

Neste cenário dantesco, não é de se admirar que o show que ele realizou domingo no Espaço das Américas em SP, parecia mais como uma missa. Nick sempre foi um sujeito religioso, mas parece que nos últimos anos, assumiu de vez a persona de um pastor de ovelhas desgarradas.

Elo perdido entre Iggy Pop e Leonard Cohen, sua presença hipnótica no palco levou o público à loucura, numa catarse dionisíaca e arrebatadora.




Amor e caos
O cantor disse mais de uma vez ao microfone que estava rezando pelo Brasil, um país excepcional nas suas palavras, mas o qual manteve uma distância segura por anos. Seu retorno bombástico ajusta contas com um passado um tanto nebuloso.

O público foi facilmente seduzido por esse fauno magrelo, de cabelos pintados e terno justíssimo. A tempestade sonora de sua banda, a Bad Seeds, foi a trilha ideal para embalar aqueles anjos decaídos, sedentos de amor e caos.

Ao contrário de Roger Waters, tentou evitar temas políticos, mas o público o incitou a entoar o #elenao. Se rendeu timidamente, talvez por compaixão àquela gente.


Beijo
Juro que no momento em que Nick beijou um dos fãs que estava no palco ao seu lado, tive vontade de chorar. Aquilo pra mim foi simbólico, como se ele nos prepara-se para o grande apocalipse que vem por aí.

Amém, irmão Nick, amém...




N da R.: A excelente foto que abre esse post é do fã David Nat, um dos sortudos convidados por Nick a subir ao palco durante o show em SP. 

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Deixem o Álbum Branco em paz!!!





Fiquei sabendo que o ‘Álbum Branco’ dos Beatles vai ser relançado com uma nova mixagem no mês que vem em comemoração aos 50 anos do disco. O trabalho vem sendo feito por Giles Martin, filho de George Martin, produtor e arranjador do grupo que era considerado o quinto beatle.

Sinceramente, como fã, não me empolguei com a notícia. Sinto cheiro de 'limpeza' no ar. O ‘White Album’ tem uma textura ‘roots’, crua e indisciplinada que pode se perder com essa tal ‘remixagem’ obviamente caça niqueis. O fato é que o disco destoava da produção um tanto pomposa de George Martin naqueles anos. Tanto que o produtor não gostou do resultado. Mas e daí?

Em cada canção do disco, estão presentes as cicatrizes da maior crise já enfrentada pelos Beatles desde a morte do empresário Brian Epstein. Era o começo do fim. Desde que John Lennon decidira acordar do limbo (leia-se depressão) e retomar as rédeas da banda das mãos de Paul McCartney, o clima só piorou. De quebra, Lennon ainda trouxe Yoko Ono a tiracolo.

Apesar da assinatura Lennon/McCartney ter se mantido, todas as composições foram feitas separadamente. E foi assim até o término da banda, dois anos depois.


 Ringo debandou
A coisa estava tão ruim que Ringo deixou o grupo no meio das gravações. Diz a lenda que McCartney, multi-instrumentista, assumiu as baquetas em algumas canções como ‘Dear Prudence’. Claro que não foi creditado. Ringo só voltaria depois de muita insistência e uma verdadeira festa de recepção com flores e pedidos de desculpas no estúdio.

Para diminuir a hostilidade entre os quatro, George Harrison teve a brilhante ideia de levar um amigo nas gravações, Eric Clapton. Funcionou durante um breve momento já que, pelo menos enquanto Clapton estava por ali, todo mundo se tratava cordialmente. Gostaram tanto dele, que o guitarrista gravou os solos de ‘While My Guitar Gently Weeps’.

Irregular para alguns, genial para outros, o álbum ainda é um clássico cheio de arestas, tensões e mal estar. Talvez ai resida seu charme: a arte que surge do caos.  E assim que deve ser lembrado, por isso, deixem-no em paz!!!





quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Rouba, mas faz!

Alguém já disse que o artista de talento é ‘influenciado’ pelos seus ídolos. Já o gênio vai lá e rouba as ideias dos outros na cara dura.

O fato é que quando o assunto é música pop, não são poucos os casos de pilhagens envolvendo gente graúda que teve que responder nos tribunais por plágio.

Um dos sujeitos mais roubados na história do rock, por exemplo, foi Chuck Berry, o cara que praticamente inventou essa porra toda. Por sorte, Chuck não levava desaforo pra casa.

Dois dos embates mais célebres colocaram os Beach Boys e até os Beatles no banco dos réus. No primeiro caso, Brian Wilson e cia copiaram ‘Sweet Little Sixteen’ inteira pra escrever ‘Surfin’ in USA’. Berry acionou os advogados e seu nome foi creditado como coautor da faixa.



Sinal de alerta
Anos depois, John Lennon abriria o disco ‘Abbey Road’ dos Beatles com ‘Come Together’, e o sinal de alerta de Chuck acendeu ao perceber similaridades com a sua ‘You Can’t Catch Me’, lançada na década anterior.

Numa espécie de ‘acordo de cavalheiros’, Lennon regravou a música em seu álbum de covers ‘Rock’n´Roll’, lançado em 1975. Chuck faturou horrores em direitos autorais.



Inconsciente
Numa entrevista à Playboy nos anos 1980, Paul McCartney disse que o Fab Four vivia roubando as ideias dos outros sem o menor peso na consciência. Parece que eles levaram a prática para suas carreiras-solo.

George Harrison, por exemplo, teve que desembolsar uma grana alta por ‘plágio inconsciente’ de ‘He’s So Fine’ do grupo vocal Chiffons. Ouça a música e veja de onde surgiu um dos maiores sucessos de Harrison: ‘My Sweet Lord’.



Bucaneiros
Aliás, os ingleses são verdadeiros bucaneiros neste ramo. Willie Dixon, parceiro de Chuck Berry nos anos 1950, também foi pilhado por outra banda britânica: o Led Zeppelin. Seu nome acabou creditado no clássico ‘Whole Lotta Love’ pela incrível semelhança com ‘You Need Love’, lançada em 1963 pelo bluesman Muddy Waters.





Segundo os detratores, o Led é um caso à parte quando o assunto é plágio. A banda recentemente foi acusada de roubar os acordes iniciais de ‘Taurus’, do grupo psicodélico Spirit, para escrever ‘Stairway to Heaven’. O processo não deu em nada.



Taj Mahal
Aqui no Brasil, um dos casos mais famosos de plágio colocou Rod Stewart e Jorge Benjor em lados opostos. Rod chupou ‘Taj Mahal’ descaradamente para a sua ‘D’ya know I’m sexy’. Jorge processou, mas garante que até hoje não viu a cor da grana.



Lista grande
A lista é grande e temos ainda casos envolvendo Kraftwerk X Afrika Bambataa (‘Trans Europe Express’/’Planet Rock’), Michael Jackson X Manu Dibango (‘Wanna Be Starting Something/’Soul Makossa’), Queen X Vanilla Ice (‘Under Pressure’/’Ice ice Baby'), The Verve X Rolling Stones (‘Bitter Sweet Simphony’/’The Last Time’), Radiohead X The Hollies (‘Creep’/’The Air That I Breathe’) e por ai vai.

Curioso é que existem ainda exemplos de plágios descarados que, por camaradagem ou desapego mesmo, não resultaram em nada.

Neste item, podemos incluir o Nirvana que surrupiou os riffs iniciais de ‘Eighties’ do Killing Joke, na música ‘Come as you are’, e os Strokes que tomaram emprestado ‘American Girl’ de Tom Petty, para o hit ‘Last Nite’.




E claro, a recente polêmica entre Black Sabbath e a nossa Vanusa, em que os fãs da cantora brasileira juram que os pais do heavy metal roubaram ‘What to Do’ para comporem ‘Sabbath Bloody Sabbath’. Ambas foram lançadas em 1973, porém a canção de Vanusa saiu meses antes.



Coincidência?

N. da R.: Para mais informações, tem uma reportagem bem legal que a repórter Daniela Fescina escreveu para a (recém-falecida) revista Mundo Estranho. Aqui: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/os-10-plagios-mais-famosos-da-musica/




quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Há 40 anos, nascia o pós-punk




Gosto de dizer que o melhor do punk foi o pós-punk. Se bandas como Ramones e Sex Pistols deram um basta aos excessos que estavam matando o rock e renovaram o estilo por meio de um som primitivo, o futuro ainda era incerto. Sim, porque o lema dessa turma era o ‘No future for you’.

Porém, uma nova geração de bandas resolveu transformar a urgência punk em algo mais  poético, sombrio e experimental. Nascia o pós-punk. O ano zero desse fenômeno foi 1978, quando cabeças de chave do movimento punk como Johnny Rotten, líder do Sex Pistols, resolveram mudar o jogo.

Nevermind
Um ano depois de lançar o explosivo ‘Nevermind the Bollocks’, Rotten abandonou os Sex Pistols, voltou a usar seu sobrenome de batismo, Lydon, montou o PIL (Public Image Ltd.) e gravou um disco surpreendente: ‘Public Image – First Issue’.

Foi o bastante para que o sujeito fosse tratado como Judas. Porém, ali estavam os elementos chaves do movimento pós-punk: krautrock, baixo marcante, câmara de eco, guitarras entupidas de efeitos e – suprema heresia – músicas imensas.  


Manchester
Enquanto isso, no mesmo ano, numa cidade feia e industrial do norte da Inglaterra, outra revolução se pronunciava. Um jornalista chamado Tony Wilson montava a gravadora Factory e transformava Manchester na Meca do pós-punk.

Wilson decidiu criar o selo com o amigo Alan Erasmus depois de ver um show dos Sex Pistols, uniu-se a outro maluco, o genial produtor Martin Hannett, e contratou bandas locais como o Joy Division, Durutti Collumn e A Certain Radio.


Por toda ilha
Manchester é um capitulo a parte nessa história toda. De lá ainda saíram bandas como Buzzcocks, Magazine, The Fall, The Smiths, New Order, James e a turma da fase ‘Madchester’: Happy Mondays, Charlattans, Stone Roses e, anos depois, o Oasis.

 Enquanto isso, o pós-punk se espalhava por toda Inglaterra nos anos 1980 e deu ao mundo grupos como The Cure, Bauhaus, Echo & The Bunnymen, Gang of Four e Killing Joke. E, a não ser o Gang of Four, todas essas bandas se formaram (adivinhem!) em 1978. Realmente um ano que marcou o rock mundial.



quinta-feira, 28 de junho de 2018

GAAX: Lo-Fi 100% tropical





Dia desses, recebi uma mensagem pelo inbox em que o sujeito dizia ter visto e curtido o blog graças a um post sobre o californiano (e despirocado) Ariel Pink. Foi algo que também incentivou meu interlocutor, que é músico, a enviar seu trabalho.

Nesse momento, descobri quem era o carioca Felipe Oliveira e seu projeto indie chamado GAAX. O que me deixou mais curioso foi o fato de Felipe fazer parte de um dos selos mais legais do Brasil: o Transfusão Noise Records, lá do Rio de Janeiro.  

Comandado pelo grão-mestre do lo-fi tupiniquim Lê Almeida, a gravadora lançou um monte de gente bacana que tem em comum o apreço pela psicodelia dos anos 90 e 2000, o pedal fuzz e letras em bom português.

O disco mais recente de Lê, ‘Todas as Brisas’, é uma delicia e foi eleito por este colunista como um dos melhores de 2016.

Campo dos Sonhos
Ouvi dois discos do GAAX e gostei muito, principalmente ‘Campo dos Sonhos’, de 2015, produzido por Lê Almeida. Ali estão escancaradas as principais influências de Felipe: Guided By Voices, Pavement e o próprio Lê que também toca bateria na banda.

O segundo, ‘Senhor da Ciência’, com 25 (!) músicas, foi registrado num gravadorzinho Taskam de quatro canais e é lo-fi puro. Tosco e maluco, parece uma mistura de Daniel Johnston e Captain Beefheart.

“O Gaax veio como uma forma de manifestar sentimentos, ideias do processo criativo e da vida”, diz Felipe, em entrevista por e-mail.

 Ele conta que em 2013, tinha uma banda chamada Suite Parque junto com o Lê Almeida e Evandro Fernandez (Carpete Florido). Na época, Lê deixou a tal mesa Tascam de quatro canais com ele, a qual começou a utilizar para compor e gravar com mais frequência.

“Essas músicas já não entravam bem no Suite Parque, foi quando surgiu a necessidade do Gaax existir”, informa.


Incentivo
Felipe diz que desde o início Lê Almeida o incentivou. O resultado foi a gravação, produção e lançamento de seus discos pela Transfusão Noise. Se não bastasse, o dono do selo ainda toca bateria na banda.

“Trabalhar com a Transfusao é muito motivador para mim, tanto pela questão de afinidade sonora quanto pela liberdade que tenho com eles. A galera é super amiga e se preocupa um com os outros. Isso torna uma energia linda nas gravações e nos shows”, garante.

Mas por causa da crise que afeta o Rio de Janeiro, o músico veio para Ribeirão Preto onde vive há dois anos com a esposa. E, além das praias ensolaradas, deixou para trás os companheiros de banda.

Mas isso não desanimou Felipe que já sonha em lançar o quarto disco da banda em breve.
“Estou com musicas prontas para gravar desde o ano passado, mas não tive tempo de ir no Rio ainda. Iremos gravar no Escritório, que é a base da Transfusão Noise Records”,  diz.

Quem viver verá (e ouvirá)! Por enquanto, ouça 'Campo dos Sonhos' na integra no link abaixo...





sexta-feira, 1 de junho de 2018

Forró de respeito!


Um festival de música feito no interior paulista, no muque, sem leis de incentivo ou dinheiro público chega a sua 28ª edição com uma programação invejável. O Forró da Lua Cheia, sediado numa fazenda da pacata Altinópolis, região de Ribeirão Preto (SP), e realizado nesse final de semana, é um exemplo de empreendedorismo e longevidade.

Criado pelo empresário e fazendeiro Edgard Meirelles nos longínquos anos 1980, o que era para ser uma festa entre amigos, tornou-se um dos maiores eventos culturais do Brasil fora-do-eixo.

A programação desse ano é a melhor de todas as suas edições. Confira aí: Vanguart, Nação Zumbi, Emicida, Baiana Sound System, Rincon Sapiencia, Bixiga 70 e o veterano Walter Franco são alguns dos nomes que vão subir ao palco principal em quatro dias de festa.

Eu mesmo já toquei lá duas ou três e vezes com o Motormama e foi um dos poucos lugares deste país em que recebi o cachê com antecedência. 





Mudança
 O evento só melhorou com o tempo. Numa mudança de proposta artística, seus organizadores conseguiram se distanciar do ranço riponga e saudosista de outros anos para investir em novos nomes relevantes da cena nacional.

Claro que os veteranos continuam a dar o ar de sua graça, mas que outro festival traz o lendário e, infelizmente, esquecido Walter Franco como atração de destaque?


Não é pouca coisa, principalmente numa época de crise em que muitos eventos de música dita alternativa encerraram suas atividades ou mudaram a ‘proposta’. Um bom exemplo é o (até então) celebrado Tim Festival que anunciou uma guinada de 360 graus para uma vertente mais ‘popular’. E dá-lhe sertanejo e axé.

Vida longa ao Forró da Lua Cheia!



sexta-feira, 4 de maio de 2018

Quando Money Mark apertou o botão!





Em sua fanpage, Money Mark nos avisa que seu disco ‘Push the Button’ completa hoje (sexta, 4 de maio) 20 anos. Rapaz, eu bem me lembro do momento em que comprei esse disco numa das lojas da Galeria do Rock, em Éssepê. Foi como achar um alfinete no palheiro.

Para quem não sabe, Money Mark foi o tecladista dos Beastie Boys nos melhores momentos do trio nova-iorquino. Ele está presente em clássicos como ‘Chech Your Head’ e ‘Ill Comunication’, só pra dizer o mínimo.

Porém, em 1998, o sujeito resolveu lançar ao mundo um pérola do ecletismo soul-indie low-fi, o tal ‘Push the Button’. Traduzindo: Aperte o botão.

Era o segundo álbum de Mark Ramos Nikita que contou com um time de feras do underground de NY como colaboradores. Nomes como Sean Lennon, filho do homem, Russel Simmins, batera da Jon Spencer Blues Explosion, e o produtor brasileiro Mario Caldato Jr. dão o ar de suas graças nessa obra-prima. 


Aula

Money Mark dá uma aula de como é possível fazer um disco simples e, ao mesmo tempo, criativamente explosivo. Apesar de sua ligação com o hip-hop,  o músico não se limita a nenhum gênero em especial em ‘Push the Button’.

Há espaço para o indie, para o funk-soul, para a eletrônica vintage e até mesmo para o folk-rock em temas como a linda ‘Rock in the Rain’. Aqui em casa, essa música tornou-se praticamente um hino.

Entre as canções de trabalho, está a sacolejante ‘Maybe I’m Dead’ que até ganhou clipe na MTV, e ‘Hand in your Head’. Tente ouvi-las sem um sorriso no rosto.

É incrível imaginar que Money Mark está praticamente esquecido pelo público indie. Em sua página no Facebook, apenas alguns fãs lhe parabenizaram pelas duas décadas de ‘Push the Button’. Pois aqui deixo minha homenagem a esse grande álbum. Congrats, dude. 






quarta-feira, 21 de março de 2018

Surfer Rosa chega aos 30




Em 1988, eu estava prestes a entrar na faculdade e era um sujeito musicalmente radical. Num dia qualquer, li em algum lugar sobre uma banda de Boston (EUA) que estava se tornando a grande sensação do rock independente no planeta (na época, chamavam de ‘alternative rock’). O nome era Pixies...

A extinta revista Bizz então publicou uma resenha colocando ‘Surfer Rosa’ - o álbum de estreia do quarteto e que comemora 30 anos neste dia 21 de março - no topo do mundo. Por um milagre da natureza, a BMG Ariola lançou o disco por aqui.

Achei o vinil numa loja da Mesbla e comprei na hora. Quando cheguei em casa e coloquei aquela belezinha pra tocar na minha vitrola, entrei em estado de choque.

O baixo cavalar e a bateria zeppeliana de ‘Bone Machine’, a música que abria o disco, me deixou atordoado. Era como se a banda punk Husker Dü resolvesse fazer hard rock com versos surrealistas.

 “Eu estava conversando com um padre sobre beijinhos/ Ele me comprou um refrigerante/ E tentou me molestar no estacionamento’, dizia a letra escrita por Black Francis, gordinho freak e gênio dessa porra toda.  Lembre-se que anos depois, Boston, cidade católica, foi cenário do maior escândalo de pedofilia da história da igreja nos EUA.


Esquizofrenia
Depois seguem ‘Break My Body’, as insanas ‘Something Against You’ e ‘Broken Face’ e a magistral ‘Gigantic’, escrita e cantada lindamente pela baixista Kim Deal, que assinava ‘Mrs John Murphy’ à época. O lado A encerra com a ‘River Euphrates’, com a guitarra esquizofrênica de Joey Santiago surtando.

O lado B abre com ‘Where’s My Mind?’, hino dos desmiolados de todo o planeta. É uma daquelas músicas que coloca Black Francis entre os grandes do rock mundial. Influenciou praticamente todo o mundo indie dos anos 90. 

Aliás, ‘Surfer Rosa’ é uma espécie de Bíblia para quem quiser entender a música pré-internet. Kurt Cobain nunca escondeu sua paixão pelo disco e tudo o que ele aprendeu com o Pixies está em ‘Nevermind’.

David Bowie, que também adorava a banda de Boston e regravou 'Cactus' (segunda do lado B de 'Surfer Rosa'), ficou chocado quando ouviu ‘Smell Like Teen Spirit’ pela primeira vez. Para ele, uma cópia descarada da ”dinâmica Pixies”.

Polêmicas à parte, a influência do disco está presente em grupos como Weezer, Smashing Pumpkins, Radiohead, White Stripes e a deusa P.J. Harvey, só pra citar os mais famosos. O produtor do disco, o mal humorado Steve Albini, tornou-se uma espécie de Phil Spector da época e foi convidado a gravar um monte de gente, inclusive Nirvana.

De minha parte, o disco simplesmente mudou tudo. Foi graças a Surfer Rosa que passei a prestar a atenção em bandas como Led Zeppelin e Beach Boys. E foi ali que comecei a entender que era possível ser pop e maluco. Enfim, um clássico. 






Tamo aqui!

Os melhores de um ano caótico!

Sim, gente amiga, Saturno Pop também organizou uma lista dos melhores do ano. A diferença é que em tempos virtuais, resolvemos resumir as es...

Saturno Pop is Alive