quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Jerry Lewis e 'O Rei da Comédia'




Dizem que Jerry Lewis (1926-2017), que morreu no último domingo, era bem diferente dos personagens que encarnou nas telas de cinema. Perfeccionista, rabugento e um baita de um chato reacionário, passava longe do tipo desastrado de bom coração que aprendemos a amar por décadas.

Filiado ao Partido Republicano nos EUA, nos últimos anos, desembestou a falar mal de mulheres, minorias e não escondia sua simpatia pelas bizarrices de Donald Trump. Uma de suas últimas entrevistas, que bombou na internet meses antes de sua morte, é puro constrangimento tamanho seu mau humor e falta de modos com o repórter.

Isso não desmerece em nada seu incrível talento que por vezes, beirava a genialidade, como em ‘O Professor Aloprado’. Porém, seu canto do cisne foi uma obra subestimada e que nada tinha a ver com as comédias que o celebrizaram.

O Lewis do filme ‘O Rei da Comédia’, lançado em 1982 e dirigido por Martin Scorsese, é tão amargo que afugentou seus fãs mais ardorosos. Mas é memorável.

Ali tínhamos dois mundos diferentes: de um lado, um Scorsese que um ano antes havia acabado de lançar sua obra-prima, ‘O Touro Indomável’, e com a crítica e público beijando seus pés. E do outro, um Lewis viciado em remédios, apresentando o Teleton e tentando não se tornar uma peça de museu.



Fama
O resultado foi uma obra única e devastadora sobre a fama e o culto a personalidade. No longa, Robert de Niro é Rupert Pupkin, um candidato a humorista que, fracasso após fracasso, resolve sequestrar um apresentador famoso, vivido por Jerry Lewis, para aparecer na TV.

Com atitudes que beiram a sociopatia, De Niro tenta atrair a atenção do apresentador a todo custo.  Jerry, que no filme interpreta um homônimo (sacou o sarcasmo), passa da indiferença ao pavor absoluto, perante as investidas de Pupkin.

A cena em que Lewis esbofeteia a cumplice do sequestrador (Sandra Bernhard, ótima) é chocante, ainda mais se lembrarmos de todos os personagens ‘fofos’ que ele interpretou ao lado de Dean Martin. 

Enfim, um papel corajoso e digno de um sujeito contraditório. Se puderem, assistam sem medo...  



quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Com um topete e violão, Elvis mudou o mundo



Muitos vieram antes e muitos apareceram depois, mas se tem um sujeito que merece o titulo de rei é Elvis Presley. Pergunte ao seu pai, avô, tia, aos Beatles, Raul Seixas, Roberto Carlos e pra quem mais quiser: como era esse planeta antes desse caipira aparecer?

E apesar de tudo que esse rapaz de Tupelo (sul dos EUA) fez por nós, morreu há 40 anos deprimido, balofo e solitário no banheiro de sua mansão em Memphis, Tennessee. O rei do rock era um glutão viciado em remédios e seu coração não aguentou os abusos de décadas. Elvis partiu pra sempre aos 42 anos.

Mas antes ele ajudou, sem querer, a inventar aquilo que conhecemos como cultura jovem. Era o caçula de uma turma encabeçada por Marlon Brando, James Dean e Marilyn Monroe, semideuses que definiram a iconografia norte-americana pra sempre.

Até então, a adolescência era só uma fase da vida que deveria ser esquecida quando nos tornássemos adultos. Mas foi durante os anos 1950, que os EUA, e consequentemente o mundo, descobriram que existia algo chamado juventude.

Um período determinante na vida das pessoas, com seus anseios, loucuras e, principalmente, demandas.



O Selvagem
Filmes como ‘O Selvagem’, com um Brando bancando um ‘angry young man’ motorizado deram início a uma onda que chegou ao seu ápice com ‘Juventude Transviada’, longa-metragem estrelado por James Dean.

Diz a lenda que Elvis venerava Dean e sabia as falas do filme de cor. Isso diz muito para o que viria depois. Enquanto isso, pioneiros do rock como Chuck Berry e Bill Haley descobriram que uma mistura explosiva de blues com country music era a trilha sonora ideal daqueles anos.

 O rhythm’n’blues (que depois seria chamado de rock’n’roll) ganhava forma, porém o golpe de mestre foi quando um empresário chamado Sam Philips resolveu investir naquele caminhoneiro boa-pinta de 19 anos. Elvis era o sonho antigo de Sam que ganhava forma: um branco que cantava e dançava feito um negro.

De 1954 a 1955, aquele garoto lançou uma série de singles pela Sun Records, gravadora de Philips, até ser contratado pela RCA e ganhar o mundo. Esse material do período inicial de ouro foi relançado em 1976 num disco chamado ‘The Sun Sessions’.

Ou seja, Elvis não inventou o rock, mas ajudou a torná-lo maior que a própria vida. De quebra, mudou o mundo. Longa vida ao rei!





quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Aleluia! Lee Ranaldo vem aí!


As noticias ruins aqui no sertão paulista despencam em nossa cabeça como a fuligem da queimada de cana. A última bizarrice foi a filiação de Jair Bolsonaro a um partido da vizinha Barrinha. Mas alguns fatos nos fazem renovar nossa fé na humanidade.

Neste sábado, dia 12, São Sebastião do Ribeirão Preto recebe ninguém menos do que mister Lee Ranaldo, legítimo herói do rock independente (ou indie) internacional.

Lee foi durante 30 anos, guitarrista principal e compositor de uma verdadeira instituição da música underground norte-americana, o Sonic Youth (em bom português 'Juventude Sônica'). A banda de Nova York influenciou muita gente nas últimas décadas.

De cabeça, me lembro de nomes como Nirvana, Mudhoney, Dinosaur Jr., Teenage Fanclub, Foo Fighters, Superchunk e até os piracicabanos do Killing Chainsaw.

Lee abre a sua turnê brazuca em nossa cidade e logo em seguida, passa por capitais como Curitiba, BH, Rio de Janeiro e São Paulo. Ribeirão é o único município do interior a fazer parte do roteiro. Agradeçam, mais uma vez, ao Sesc. Aliás, dediquem uma missa à unidade local por isso.



Novo disco
Segundo nos informa a produtora Desmonta, neste show inédito, o músico apresenta canções de seu novo disco "Electric Trim", gravado entre Nova York e Barcelona. O lançamento oficial será dia 15 de setembro pelo selo Mute Records.

Essa não é primeira vez que o nova-iorquino se apresenta no interior paulista, pois ele já esteve em Araraquara há alguns anos. Porém, para Ribeirão Preto, é algo absolutamente surreal.

Para uma cidade acostumada a subprodutos, artistas cover e todo tipo de picaretagem, Ranaldo é um antídoto a mediocridade reinante. Mas não esperem o noise rock atordoante do Sonic Youth.

O músico vem se dedicando ao violão e temas mais intimistas em seu trabalho solo e chega ao Brasil na melhor versão João Gilberto, com um banquinho e um violão.

Ver um ex-Sonic Youth desplugado é algo que nos deixa curioso. Mas se nosso amigo quiser abrir espaço no set para músicas como ‘Silver Rocket’ ou ‘Dirty Booots’, de sua antiga banda, em versão folk, ninguém vai achar ruim.




sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Há meio século, Gabo nos tirou da solidão



Essa quase passou batido, mas a verdade é que em 2017 também se comemora meio século de um dos maiores livros já escritos: ‘Cem Anos de Solidão’.

Foi o romance que colocou um colombiano desconhecido, Gabriel Garcia Marquez (1927-2014), no olimpo da Literatura mundial e, de quebra, deslocou a periférica América do Sul para o centro das atenções.

Era a vingança dos autores renegados e subnutridos do Terceiro Mundo, sempre vistos com pena ou exotismo pela turma do andar de cima. Ironicamente, Gabo - como era chamado pelos amigos - nos tirou da solidão.

Claro que antes de Garcia Marquez, tinhamos Jorge Luis Borges e Júlio Cortázar, pioneiros do tal realismo mágico (termo amaldiçoado por muitos ‘hermanos’). Mas o colombiano foi o primeiro ‘pop star’ do grupo.

Fenômeno
Desde seu lançamento, em maio de 1967, ‘Cem Anos de Solidão’ tornou-se um fenômeno de vendas. No livro de entrevistas ‘Cheiro de Goiaba’, Garcia Marquez conta ao seu amigo Plinio Apuleyo Mendoza que esperava que o livro vendesse, no máximo, cinco mil cópias. Um recorde já que, até então, seus romances não ultrapassavam mil exemplares.

“A (editora) Editorial Sudamericana foi um pouco mais otimista. Calculou que venderiam oito mil. Na realidade, a primeira edição foi vendida em 15 dias e numa única cidade: Buenos Aires”, lembra ‘Gabo’, que na época que o escreveu, quarentão e desempregado, dependia da mulher para poder pagar as contas.

Ou seja, era tudo ou nada.



Atrás de Dom Quixote
Mas o destino foi benevolente para aquele homem e o resto, todo mundo já sabe. Já foram computados até agora, mais de 50 milhões de exemplares vendidos e ‘Cem Anos de Solidão’ foi considerada a segunda obra mais importante de toda a literatura hispânica, ficando apenas atrás de ‘Dom Quixote de la Mancha’.

De quebra, o escritor ainda faturou o Nobel de Literatura em 1982.

Mas o curioso é que quanto mais o livro fazia sucesso, mais Gabo ficava incomodado. Em ‘Cheiro de Goiaba’, ele afirma que a fama “perturba o senso de realidade, talvez quase tanto quanto o poder”. Logo em seguida, faz comentários pouco elogiosos ao seu romance de maior sucesso, chamando-o inclusive de ‘superficial’.

“Você parece desprezá-lo”, observa o amigo Plinio Apuleyo.

“Não, mas o fato de saber que está escrito com todos os truques da vida e com todos os truques do ofício fez-me pensar, desde antes de escrevê-lo, que poderia superá-lo”, responde o colombiano.

‘Derrotá-lo’, insiste Plinio.

“Sim, derrotá-lo’, conclui Gabo.

O fato é que essa luta para 'derrotar' 'Cem Anos de Solidão' durou o resto da vida do escritor. Ele conseguiu? Quem sabe...




Tamo aqui!

Os melhores de um ano caótico!

Sim, gente amiga, Saturno Pop também organizou uma lista dos melhores do ano. A diferença é que em tempos virtuais, resolvemos resumir as es...

Saturno Pop is Alive