sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Mercadão é o shopping do povo




Não me canso de dizer que o Mercado Municipal de Ribeirão Preto (SP) é o melhor shopping center da cidade. É o local mais democrático e gastronomicamente rico da região. É um retrato verdadeiro do que o Brasil tem de melhor.

Na quinta-feira, completou 117 anos, o que é algo surpreendente numa cidade ‘noveau-riché’ como São Sebastião do Érrepê. Passou por poucas e boas neste tempo todo, como constantes enchentes e um incêndio que destruiu o prédio original em 1942.

Esse que nós conhecemos atualmente foi construído em 1958 na gestão do prefeito Costábile Romano e projetado pelo engenheiro/arquiteto Jayme Zeiger. Zeiger era um visionário que, entre outras coisas, construiu o Teatro de Arena da cidade.

                                          O melhor pastel de Ribeirão Preto (SP)

Problemas
O Mercadão sofreu por anos com problemas em sua estrutura e descaso da Prefeitura. Lembro que na década de 1990, era tido como um espaço decadente. Apenas nos últimos anos é que, aos trancos e barrancos, começou a se reerguer e tentar evitar sua descaracterização: ou seja, impedir a entrada de produtos ‘made in China’ em suas lojas.

É uma pena que anos atrás, ao invés do município investir numa ampla reforma e modernização a exemplo do que foi feito em São Paulo, um ‘Novo Mercadão’ foi construído em Ribeirão pela iniciativa privada.

Trata-se de um mercadão ‘gourmet’, feito para a turma endinheirada com pouca paciência para lojas de candomblé e de fumo de corda.

Quando era garoto, minha vó costumava me levar ao Mercado Municipal de São Paulo. Aquele lugar me dava medo de tão decrépito. Hoje, é um dos orgulhos da cidade. Um exemplo a ser seguido.


Nosso Mercadão merece! 

Isso aí são jurubebas 

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Sem Husker Dü, não haveria Nirvana



Grant Hart, ex-baterista do Husker Dü, e responsável por 50% das belas composições da banda está morto. Câncer, aos 56 anos. Era de um talento sem tamanho, com sua voz intensa e melódica, mas há muito tempo não produzia nada de destaque. 

Na verdade, desde que a banda norte-americana acabou, há 30 anos, Hart praticamente desapareceu da face da Terra. Seu parceiro e desafeto por anos, Bob Mould, foi muito mais prolífico ao montar o grupo Sugar nos anos 1990 e manter-se na ativa até hoje. 

O Husker Dü foi uma das melhores bandas do punk norte-americano, simplesmente por não se limitar aos clichês do gênero. Power trio formado por caipiras de Minneapolis fãs de Ramones., Beatles e Birds, o grupo começou quase hardcore com o clássico 'Zen Arcade', mas foi inserindo melodias, arranjos psicodélicos e muito folk em suas canções. 

O último disco, o sensacional 'Warehouse: Songs & Stories'' é  um classico absoluto, e influenciou bandas como Pixies, Dinosaur Jr., Green Day e, claro, Nirvana. A primeira vez que ouvi Nirvana, a banda que veio em minha mente foi o Husker Dü. 

Urgência

Estava tudo lá: a urgência, o gancho pop, a raiva punk e a pegada beatle. E assim como o Nirvana, o sucesso colocou fim ao Husker Dü. Foi um dos primeiros grupos do underground dos EUA a assinar com uma grande gravadora. E isso foi um problema. Logo após a boa recepção de 'Candy Apple Gray', disco de 1986 , Hart viciou-se em heroína. Com isso, as brigas entre ele e Mould se intensificaram. 

Em 'Warehouse', um álbum duplo com pérolas de fio a pavio, o mundo parecia aos seus pés. Mas Hart e Mould não se suportavam mais por questões que envolviam ego e drogas. A banda acabou no mesmo ano, mas deixou um legado único. 

Descande em paz, Grant Hart...





quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Rei David contra a censura nacional




Toda vez que eu ouço a palavra ‘censura’ eu lembro do grande David Cardoso, diretor, ator e produtor de cinema que fez fama e fortuna na Boca do Lixo em São Paulo.

David ganhou tanta grana com filmes de sacanagem na década de 1970 que recebeu o apelido de ‘Rei da Pornochanchada’. Ou seja, em plena ditadura militar, o sexo corria solto nas telas do Brasil com absoluto sucesso.

O mais incrível é imaginar que ao mesmo tempo em que estrelava putarias, Cardoso bancava o galã nas novelas da Globo. O que o pessoal do MBL acharia disso?

Anos 1980
Mas ai vieram os anos 1980, ano da “abertura política”, e após fracassos de bilheteria, David decidiu  voltar a sua terra natal, o Mato Grosso do Sul, para investir em imóveis.

Há dez anos, conversei com ele por telefone para uma reportagem sobre uma doação que ele fez de seu acervo cinematográfico a um museu de cinema em Batatais.

Aliás, o museu não deu em nada e esse papo de doação foi apenas um gancho para que eu pudesse ouvir de David, as histórias picantes de sua vida mirabolante. Não sei se ele já tinha tomado alguns gorós (‘Bebo todo dia’, me confirmou), mas ele entregou todo mundo na conversa.



Comeu todas e todos
Uma das frases clássicas foi essa aqui: 'Comi muita gente sim, a ..., a ... e a... E acho que tinha uns viadinhos no meio também. Naquela época era assim, né. Não tinha preconceito, não", disse.

Claro que tive que “filtrar” metade da conversa, porque se eu desse nomes aos bois, o jornal corria o risco de tomar um belo de um processo (Tá vendo a censura ai?). 

Lembro que ao final, eu já não me aguentava de tanto rir, até que o rei David resolveu me contar o célebre encontro dele com o lendário diretor, produtor e ator Amácio Mazzaropi.



Jovenzinho
Nos anos 1960, logo que chegou a São Paulo em busca de emprego como ator, David foi informado que Mazzaropi adorava “jovenzinhos”, por isso poderia arranjar algum serviço para o fedelho.

David foi lá no escritório de Mazza que, além de atendê-lo, ainda o convidou para o aniversário da mãe que seria naquela mesma noite. O jovem apareceu na hora marcada, 19h, mas só encontrou o bom e velho Amácio em casa, todo pimpão.

Mazzaropi não se fez de rogado e, na maior cara de pau, colocou o bolero ‘Perfume de Gardênia’ na vitrola e convidou David para uma contradança. O rapaz hesitou, mas de olho no emprego, topou dançar agarradinho com o sujeito.

“Mazzaropi era baixinho e colocou a cabeça no meu peito, de olhos fechados. Imagina a cena”, lembra David, que jura que a dança não durou muito, porque alguém tocou logo a campainha, para a tristeza do Jeca.

 O fato é que depois dessa, David trabalhou como continuísta e diretor de produção na empresa de Mazza, a Pam Filmes. Bons tempos!





sexta-feira, 1 de setembro de 2017

O Reading Festival mudou minha vida

Na época, não se falava em outra coisa. Há 25 anos, a Rede Bandeirantes, hoje Band TV, anunciava a exibição do Reading Festival em TV aberta. Foi uma festa para nós, neo-grunges e proto-indies que amávamos o novo rock que brotava nos EUA e na Inglaterra. 

Veja, meu amigo/amiga, não existia internet e os canais a cabo engatinhavam no Brasil. Para assistir a seus ídolos gringos ao vivo, só havia duas formas: ir a festivais que custavam o olho da cara e quase não existiam no Brasil ou assistir pela TV, principalmente emissoras especializadas como a MTV. Ver um festival alternativo inglês num canal comercial, era algo raríssimo. Hoje nem se fala.

Dia desses, sites e blogs nacionais e internacionais postaram o cartaz com a programação completa de Reading naquele ano. Juro que uma lágrima escorreu no meu rosto. Era o ‘creme de la creme’ daquela geração mágica. Deem uma conferida abaixo: 




A Band exibiu um compacto com trechos de shows das bandas que tocaram no palco principal do evento. Mas graças a essas imagens que conheci grupos como o Pavement, Teenage Fanclub, Rolins Band e a deusa suprema P.J. Harvey. 




Uma das bandas que me deixou surpreso foi o Smashing Pumpkins. Billy Corgan, ainda cabeludo, era um animal na guitarra. Aliás, todos do grupo eram músicos acima da média. Um hard rock psicodélico excepcional. 




De resto, meus ídolos Mudhoney, sujos de lama (‘mudhoney’ significa ‘mel de lama’) e deixando todo mundo surdo com sua garageira entupida de fuzz. Lembro que a Band, talvez por questões contratuais, não exibiu o show do Nirvana, com Kurt Cobain entrando de peruca no palco, roupa de hospital e sendo empurrado em uma cadeira de rodas. Consegui ver anos depois na internet. Aqui completo:




O Reading existe até hoje, mas está longe da relevância dos anos 1990. Aquela edição de 1992, em especial, foi algo realmente marcante e eu não me esqueço jamais. Minha vida nunca mais foi a mesma. 

Tamo aqui!

Os melhores de um ano caótico!

Sim, gente amiga, Saturno Pop também organizou uma lista dos melhores do ano. A diferença é que em tempos virtuais, resolvemos resumir as es...

Saturno Pop is Alive