Foto de David Nat
Entre os primeiros shows
realizados por Nick Cave no Brasil em 1989 e seu retorno triunfal ao país domingo passado, existe um ‘vácuo’ de quase 30 anos.
Neste meio tempo, ele se apaixonou
por uma paulistana, casou, teve um filho brasileiro, viveu em São Paulo por
três anos, mudou-se para a Inglaterra, divorciou-se, casou de novo, foi pai de
gêmeos, perdeu um deles tragicamente, esteve presente em filmes e
documentários, escreveu uma penca de livros e gravou dezenas de discos.
O Brasil passou por Collor
de Mello, impeachment, Itamar Franco, Plano Real, FHC (duas vezes), Lula (duas
vezes), Dilma, impeachment (de novo), Michel Temer e mais uma vez estamos numa
sinuca de bico numa eleição polarizada e obscurantista.
Luto
Nick voltou ao nosso país
nesse ambiente de incertezas. O músico, que passou por um período de luto nos
últimos anos por causa da morte de um dos filhos, testemunhou (mais uma vez) as
nuvens cinzentas que pairam sobre nossas cabeças.
Neste cenário dantesco, não é de se admirar que o show que ele realizou domingo no Espaço das Américas em SP, parecia
mais como uma missa. Nick sempre foi um sujeito religioso, mas parece que nos
últimos anos, assumiu de vez a persona de um pastor de ovelhas desgarradas.
Elo
perdido entre Iggy Pop e Leonard Cohen, sua presença hipnótica no palco levou o
público à loucura, numa catarse dionisíaca e arrebatadora.
Amor e caos
O cantor disse mais de uma vez ao
microfone que estava rezando pelo Brasil, um país excepcional nas suas palavras,
mas o qual manteve uma distância segura por anos. Seu retorno bombástico ajusta
contas com um passado um tanto nebuloso.
O público foi facilmente seduzido
por esse fauno magrelo, de cabelos pintados e terno justíssimo. A tempestade
sonora de sua banda, a Bad Seeds, foi a trilha ideal para embalar
aqueles anjos decaídos, sedentos de amor e caos.
Ao contrário de Roger Waters,
tentou evitar temas políticos, mas o público o incitou a entoar o #elenao. Se
rendeu timidamente, talvez por compaixão àquela gente.
Beijo
Juro que no momento em que
Nick beijou um dos fãs que estava no palco ao seu lado, tive vontade de chorar. Aquilo pra mim foi simbólico, como se ele nos prepara-se para
o grande apocalipse que vem por aí.
Amém, irmão Nick, amém...
Nenhum comentário:
Postar um comentário