quarta-feira, 28 de junho de 2017

O dia em que levei Hermeto ao banheiro



Fotos: Jefferson Barcellos

Hermeto Pascoal, vulgo O Bruxo, se apresenta nesta quarta-feira em São Sebastião do Ribeirão Preto no Theatro Pedro II (em evento do Sesc local), com ingressos esgotados. Um show do mestre alagoano por aqui é sempre um acontecimento e tanto.

O albino é uma figuraça. Todo mundo que assistiu a uma performance dele por esses lados tem uma história divertida pra contar.

Uma das mais célebres envolve um conhecido artista local que, ainda iniciante, tentou dar uma canja durante um show de Hermeto no Teatro de Arena nos anos 1980. Mal começou a dedilhar sua canção, foi convidado a se retirar educadamente do palco pelo próprio anfitrião.

Missa dos Escravos
Eu conheci a música do albino ainda garoto em SP quando alguém da família (ou algum vizinho insano) me deu um disco intitulado ‘Nova História da Música Popular Brasileira’. O álbum começava com ‘Plin’ e ‘ Missa dos Escravos’ e, rapaz, que maluquice era aquilo.

Anos depois, ainda estudante de jornalismo, consegui uma entrevista com Hermeto no hotel onde ele estava hospedado em Ribeirão.

Hermeto falou à beça. Falou sobre a sua vida no sertão do Alagoas, seu início de carreira no Sudeste (graças a sua semelhança com Sivuca), sua impaciência com o rock e com a turma da MPB e, claro, o soco que deu na cara de Miles Davis durante uma luta de boxe.


Olimpus 135
Mas o mais engraçado de tudo foi quando tentei tirar uma foto dele com minha máquina Olimpus 135 (tenho até hoje). Sem flash e com o dia já escurecendo, percorremos todo o saguão do hotel em busca de uma lâmpada que fosse clara o suficiente para um retrato digno do mestre.

Em dado momento, com certeza o mais constrangedor de todos, nós dois entramos no banheiro em busca da luz ideal. Hermeto não deu a mínima: soltou o cabelo e fez pose ao lado do espelho e da pia.

Fico imaginando a mesma situação com algum outro medalhão da MPB. Com certeza, teria me mandado catar coquinho na estrada. Mas Hermeto foi um lorde!

Em tempo

As fotos de Hermeto que usei para esse post foram feitas pelo amigo de fé, fotógrafo e baterista Jefferson Barcellos há 15 anos num hotel fuleiro da Consolação, lá em Éssepê. Ao contrário daquelas que fiz com minha Olimpus, ficaram lindas! Gracias, hombre! A seguir, o Bruxo enlouquecendo em Montreaux...





sábado, 24 de junho de 2017

Folk do outro planeta



A banda  Doutor Jupter se apresenta neste domingo, dia 25/06, gratuitamente na UGT, aqui em São Sebastião do Ribeirão Preto. Trata-se de uma turnê comemorativa de 10 anos do grupo que passa por dez cidades paulistas. Formado por ribeirão-pretanos radicados há anos  na lendária Serra da Cantareira, em Mairiporã, na Grande São Paulo, o Doutor Júpter é um dos destaques do folk rock paulista. Em entrevista a seguir, o líder Ricardo Massoneto fala um pouco da trajetória da banda.

Saturno Pop - Como nasceu esse projeto de turnê comemorativa?
Ricardo Massoneto - Uma banda completar 10 anos em atividade, achamos ser um bom motivo pra comemorar...rsrsrs. Começamos a projetar tudo ainda no início de 2016. Pretendíamos circular por espaços culturais parceiros. O projeto aprovado foi uma surpresa positiva, que permitiu que conseguíssemos passar por cidades de diferentes regiões, por exemplo extremos como Presidente Prudente e São Sebastião. Passaremos por pelo menos 10 cidades, em 2017, com o show comemorativo. É uma oportunidade muito boa, a de difundirmos o repertório da banda na estrada.

 Vocês conseguiram a aprovação da turnê pelo Proac (Programa de Ação Cultural do Governo paulista). O sonho de muitos artistas. Foi difícil?
                Estamos na estrada há muito tempo, e tentamos muitas e muitas vezes conquistar esse prêmio do Estado. Quando começamos a concretizar nossos projetos na realidade, pra depois buscar um apoio, tivemos propostas mais fortalecidas para apresentar. Se a proposta é circulação, é importante já ter parcerias estabelecidas. Se a proposta é um disco, é importante já estar produzindo. Você deve apresentar o que já existe. Essa é a nossa dica.

 Foi difícil organizar a logística de shows?
Em janeiro de 2016 estivemos com uma série de produtores culturais que mantêm seus espaços em suas respectivas cidades e dali, já consolidamos uma proposta de roteiro. A intenção ainda é trabalhar pra ampliar esses pontos parceiros, na tentativa de criarmos novos corredores culturais, pra oxigenar e colaborar com o aquecimento da circulação das artes.

Vocês tem uma história de luta q começou quando deixaram Ribeirão para viver na Serra da Cantareira. Conte um pouco sobre isso...
Quando encaramos a mudança foi uma experiência doida mudar de Veraneio/79, juntar todos em uma só casa, tocar em madrugadas e mais madrugadas em São Paulo pra sobreviver, e ao mesmo tempo começar colocar em prática o trabalho autoral. Corremos sempre muito pra manter o plano de pé. Nos dedicamos integralmente ao setor cultural e artístico. Eu e minha maior parceira de composições, ideologia e de vida, a Mariana. A atuação no setor cultural e artístico virou nossa luta, nossa bandeira, nossa profissão e nosso vício.

Como é a vida em Mairiporã?

                Mairiporã é um verdadeiro paraíso natural, uma cidade muito peculiar e pitoresca. Temos uma proximidade muito grande com a natureza e pessoas que curtem esse estilo de vida. Foi assim que conseguimos reunir um grupo muito bacana de pessoas ligadas à arte e cultura, e a partir daí começamos a encampar uma mudança da realidade cultural da cidade. 


SERVIÇO
O show começa as 17h neste domingão (25/06)
É gratuito, amigos...
A UGT - Memorial da Classe Operária fica na rua José Bonifácio, 59
Centro de Ribeirão Preto

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Robertão já foi uma brasa, mora!





São Sebastião do Ribeirão Preto (SP) recebe mais uma vez neste final de semana, o rei Roberto Carlos em dois shows a preços exorbitantes no RibeirãoShopping. Para quem acompanha a trajetória de mais de meio século do cantor e compositor, nada de surpreendente. Desde que decidiu se tornar o Julio Iglesias do Hemisfério Sul, Robertão segue a linha romântica saudosista que encanta aposentados e cardiopatas em geral.

Mas o que muita gente da nova geração não sabe é que Roberto já foi um cara que surfou na crista da onda (para usar um termo velhusco). Nos anos 1960 não tinha pra ninguém. O sujeito inventou a Jovem Guarda e foi seu maior representante. Ganhou rios de dinheiro e ajudou a estabelecer o mercado pop no Brasil. Mas ele também foi o seu maior carrasco, já que bastou Roberto pular fora do barco para o estilo degringolar de vez.


Roberto em momento reflexivo no filme 'Em Ritmo de Aventura'

Pérola
Antes, deixou uma pérola que marca o ápice e também o ocaso da Jovem Guarda. 'Roberto Carlos em Ritmo de Aventura', que completa 50 anos, foi lançado como trilha sonora da filme homônimo dirigido por Roberto Farias (irmão de Reginaldo que, aliás, participa do longa) e é uma maravilha do começo ao fim. É o creme-de-la-creme da inocência jovem-guardista, mas de caráter tropical e já de olho no pop psicodélico que chegaria ao Brasil aos trancos e barrancos.

É bom lembrar que naquele ano de 1967, os Beatles lançaram 'Sgt. Peppers' e já tinham no currículo os álbuns 'Rubber Soul' (1965) e 'Revolver' (1966). A turma da Jovem Guarda estava mais ligada neste tipo de 'estrangeirismos' do que propriamente os representantes da MPB, que saiam as ruas para protestar contra a guitarra elétrica. Não foi por acaso que os baianos Caetano e Gil buscaram em Roberto e cia. inspiração para o Tropicalismo.


O rei não era de levar desaforo pra casa

'Eu Sou Terrível'
O disco só tem música boa, entre elas "Eu Sou Terrível", "Como É Grande O Meu Amor Por Você" "Quando", e "Por Isso Corro Demais". O instrumental ficou a cargo de Renato e Seus Blue Caps e, claro, o genial tecladista Lafayette, um dos sujeitos mais inovadores do pop brazuca. É dele o cravo da faixa “E Por Isso Estou Aqui”, uma das canções mais lindas já feitas em terras tupiniquins.

'Em Ritmo de Aventura' marca também o fim de uma era. No ano seguinte, viria o Tropicalismo e os Mutantes com discos que colocariam o rock nacional num outro patamar. Roberto, que não era besta, caiu fora da Jovem Guarda, passou uma temporada na Europa, deixou o bigode crescer e deu início a sua fase 'adulta' com muito suingue e romantismo melancólico.

Mas antes foi responsável por pelo menos uma obra-prima daquela época: 'Em Ritmo de Aventura'. Parabéns pra ele!!!!!!





terça-feira, 20 de junho de 2017

O rock é o novo jazz?


Nos últimos tempos, muita gente tem se perguntado se o rock ainda é relevante. Ou seja, quem é que liga para a música feita com guitarras, baixo e bateria? Apenas trintões e quarentões barrigudos e grisalhos? De acordo com as paradas de sucesso daqui e de fora, é mais ou menos isso mesmo. Ou seja, o rock corre o risco de ser uma música de nicho, segmentada, a exemplo do jazz e da música instrumental. 

Em listas recentes das canções mais tocadas nos serviços de streaming no Brasil só tem música pop norte-americana e hits das duplas sertanejas nacionais nas paradas. Nas últimas semanas, apenas Anitta conseguiu furar o cerco dessa turma. Nos EUA, não é muito diferente. O pop e o rap dominam as 'charts' gringas. 

Longe das rádios

Não é preciso ir muito longe. É só ligar a TV e as rádios comerciais para se ter uma noção do que realmente é a música popular brasileira. A não ser pelas rádios especializadas e estatais, rock e MPB passam longe. Puxe ai pela sua memória qual foi a última banda nacional a fazer sucesso por estas terras: NXZero? Los Hermanos



Pelas redes sociais, vejo produtores e donos de casas de shows do interior paulista e da capital passando um perrengue danado pra tentar manter o local aberto dando espaço apenas para o rock. Muitos tiveram que optar pro uma programação mais 'flexível' com direito a muitas festas temáticas apenas com DJs ou artistas covers. 

João Rock

Porém, ao mesmo tempo, como explicar o sucesso dos festivais 'rockistas' no país? Eles se espalham pelos quatro cantos como uma febre, sejam de pequeno ou de grande porte. Um bom exemplo é o João Rock daqui de São Sebastião do Ribeirão Preto que sempre é um sucesso de público (veja abaixo a Nação Zumbi na edição de 2014). Mas será que ele traz algum tipo de benefício à produção local? Movimenta a cena paulista? O rock está mais popular por aqui por causa do festival? Não!




Ao que parece, as pessoas hoje em dia estão mais interessadas no evento em si, no clima de balada, do que necessariamente dispensar algum tempo de sua vida para ouvir aquela banda ou artista num show exclusivo. Isso é ruim? Não sei. Acredito que é apenas o sinal dos tempos.




Saturno Pop is alive

O mundo precisa de mais um blogueiro? Claro que não. Mas tudo que é bom nessa vida é inútel, irrelevante e não está na tabela periódica. Ou seja: música, cinema, literatura, Freud e vinho barato. Saturno Pop será atualizado semanalmente, até que eu fique rico e não tenha tempo pra mais nada nesta vida.
Enquanto isso, sejam bem-vindo amigos.

Tamo aqui!

Os melhores de um ano caótico!

Sim, gente amiga, Saturno Pop também organizou uma lista dos melhores do ano. A diferença é que em tempos virtuais, resolvemos resumir as es...

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