quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

O poder da sofrência


Que Anitta que nada! O maior fenômeno da música dita popular brasileira é uma gorducha de 24 anos nascida no Centro-Oeste. Direto de Cristianópolis, Goiás, Marilia Mendonça comprova que o que o brasileiro gosta mesmo é de uma boa canção de dor de cotovelo.

Faça as contas. Desde que Chitãozinho e Xororó gravaram ‘Fio de Cabelo’ em 1982, nunca mais a música sertaneja abandonou as paradas de sucesso no País. Desde então, o estilo deixou definitivamente o gueto em direção ao topo da cadeia alimentar da indústria fonográfica.

É um dos poucos gêneros que se renova quase que anualmente, atropelando modas, conceitos, críticas e crises inerentes ao nosso País. Por gerações, essa turma alimenta uma indústria gigantesca que deixa o rock, a MPB, o samba e o funk ostentação no chinelo.


Sem discursos
Agora, com Marilia e duplas como Maiara e Maraisa à frente, as mulheres ganham um novo papel numa cena até então dominada por machos de bota e chapéu. O feminejo mostra um outro lado do tal ‘empoderamento’.

Sem discursos sociológicos, bandeiras ou lacres, a sofrência feminina derruba preconceitos e estereótipos ao seu modo. Marilia está longe dos padrões de beleza de uma Barbie como Paula Fernandes, mas está pouco se lixando e, além de soltar a voz sem medo, é uma compositora de sucesso.

Politicamente correto
É incrível como a turma do politicamente correto esquece do sertanejo em seus discursos em defesa do gosto popular. O funk, por exemplo, é muitas vezes mais sexista e misógino que qualquer outro estilo, mas por ser música ‘da comunidade’, seus excessos são mais que legítimados.

Goste-se ou não, o sertanejo comercial é a trilha sonora do Brasil brasileiro. Tratá-lo como ‘modinha’ passageira é um erro tremendo. Está mais para um ‘modão’ mesmo, sem prazo de validade.

E feliz 2018 a todos!!!


sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Júpiter e eu


Até a primeira metade dos anos 1990, a psicodelia made in Brasil estava fadada ao esquecimento. O último disco realmente relevante do gênero havia sido lançado pela banda Violeta de Outono em 1987.

Foi preciso que um sujeito lá de Porto Alegre criasse uma persona artística para trazer o estilo de volta para o cenário nacional. Flávio Basso, mais conhecido por seus trabalhos em grupos de rock adolescente como TNT e Cascaveletes, renascia como Júpiter Maçã.

Já no álbum de estréia, ‘A Sétima Efervescência’, Júpiter nos deixou de quatro com aquela mistura de Syd Barret, Roberto Carlos, Beatles e Mutantes. Uma obra-prima que completa 20 anos de existência.

Desde então a psicodelia foi redescoberta no Brasil. Eu mesmo fiquei literalmente acachapado com as músicas do disco. No final dos anos 1990, me sentia completamente perdido artisticamente e aquilo tornou-se uma referência pra mim.
  
Norte
‘A Sétima Efervescência’ foi um norte para meu projeto seguinte, a banda Motormama. Até hoje, ouvintes nos comparam com o rock gaúcho dos anos 2000. A resposta, claro, é a influência jupiteriana.

Conheci meu ídolo há uns 15 anos, quando a banda foi se apresentar pela primeira vez em Goiânia, numa festa pré-Bananada, um dos maiores festivais do Centro-Oeste.

Flavio, que na época sonhava com o mercado internacional e assinava Júpiter Apple, parecia um dândi flanando pelas ruas quentes de Goiânia. Abaixo, uma foto feita num boteco em Goiania, com Jupiter e sua banda, integrantes da Motormama e os organizadores do Festival Bananada, entre eles Fabricio Nobre e Léo Razuk. 



Poliglota
Para minha felicidade, ele assistiu ao nosso show e gostou muito. Nos disse: ‘Congratulations’, com sua mistura habitual de inglês, francês e ‘gauchês’. Nunca mais o vi. Vários discos depois, drogas, loucura, um DVD ao vivo e entristecido com os rumos de sua carreira, Flávio morreu sozinho em seu apartamento em PoA aos 47 anos.

Em sua homenagem, compus ‘Se o Mundo Desmoronar (Nunca Perca a Cabeça)’, música que encerra o disco recente do Motormama: ‘Fogos de Artifício’.

Se você, meu amigo, é um grande fã da neopsicodelia tropical de bandas como o Boogarins, que aliás se apresenta nesse sábado no Sesc de Ribeirão Preto (SP), agradeça a um sujeito chamado Flávio Basso, a.k.a, Júpiter Maçã. 



sábado, 9 de dezembro de 2017

Enquanto houver guitarras, há esperança



O rock agoniza, mas ainda encanta velhos corações que pulsam com eletricidade e distorção. Uma das bandas prediletas do blog, Les Deuxluxes, formada pela dupla canadense Anna Frances Myers e Etienne Barry, é a prova de que onde há guitarra, há esperança.

No caso deles são duas guitarras e um kit de bateria montado especialmente para que Etienne o toque somente com os pés. O rapaz é um verdadeiro malabarista.

A dupla encerra sua turnê no Brasil neste final de semana, com um show neste sábado no Rio de Janeiro e, de acordo com Etienne, uma apresentação surpresa em SP, talvez nesse domingo.

Ao vivo
Este que vos escreve conferiu a dupla em ação num estúdio de gravação em Americana (SP), o Édem Records. Eles abriram para o Autoramas, reis do garage pop nacional, e mesmo num local que ainda precisa se adaptar para dar uma estrutura digna para um show, mostraram que boa música se faz com pouco.

Tocaram para cerca de vinte a trinta pessoas durante 40 minutos. Tudo muito alto, mas bem executado e vibrante. Infelizmente a voz magnifica de Anna não estava nítida, mas a menina (que fala português!) é uma força da natureza e dominou o pequeno palco. Etienne é justamente o avesso. Um mestre zen em seu oficio, segurando a onda nos momentos mais complicados.  


Conterrâneos
É uma felicidade única ver esses dois jovens tão talentosos dedicarem-se a um gênero ‘fora de moda’ de forma determinada. Despencaram sozinhos de sua Montreal local para uma turnê sul-americana cheia de altos e baixos e não esmoreceram.  

São o avesso dos conterrâneos do Arcade Fire que também estão no Brasil, mas para alguns shows gigantescos com estrutura invejável. Porém, se o Arcade parece vive um momento de impasse criativo com o péssimo ‘Everything Now’, Les Deuxluxes segue firme e forte na cena garageira.

Foi  curioso vê-los ao lado dos amigos do Autoramas em Americana. O líder Gabriel Thomaz é um incansável batalhador da cena independente nacional e não dá sinais de cansaço.

Os shows do Les Deuxluxes no Brasil foram praticamente ignorados pela grande mídia local, o que é uma tremenda injustiça. Porque enquanto houver jovens como esses canadenses, a vida ainda faz sentido para os fãs de, como é mesmo nome, ah... rock.  


quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Charles Manson, o psicopata pop


O que assusta mais? Saber que uma criatura como Charles Manson existiu ou descobrir que o sujeito ainda tinha admiradores mais de quatro décadas após seus crimes?

No dia em que Manson finalmente morreu, Daron Malakian, guitarrista da banda System of a Down, apareceu nas redes sociais defendendo seu ídolo, vestindo uma camiseta com o rosto do maluco estampada.

Levou chumbo e seu pedido de desculpas foi ainda mais tenebroso. “Pessoas talentosas às vezes fazem coisas ruins”, escreveu. Bom, sair por ai comandando assassinatos de gente inocente não é lá algo fácil de se perdoar.

Ódio
No caso de Manson, não há desculpas. Sua persona artística é discutivel e sua existência era baseada no caos, no ódio e no desejo de matar. Mas por uma série de questões, ele se tornou o psicopata mais famoso do mundo.

Desde os assassinatos da atriz Sharon Tate e do casal La Bianca em 1969, até sua morte, aos 83 anos, o cara virou referência para gerações de idiotas e até mesmo de rockstars como Axl Rose, que gravou música dele, Marylin Manson, por motivos óbvios, e Malakian.

Artista frustrado, despejou seu ódio a todos da indústria que lhe deram as costas comandando crimes hediondos. Aproveitou-se da onda hippie para atrair jovens desmiolados e criar uma seita: a Família Manson.


Polanski
Chamou a atenção até de Dennis Wilson, baterista dos Beach Boys, que quase caiu na lábia do sádico. Fã de Beatles e Beach Boys, escreveu uma série de músicas ruins que, décadas depois, foram ‘redescobertas’ pelas novas gerações.

Em sua autobiografia, o diretor Roman Polanski, viúvo de Sharon Tate, lembra que a época as investigações, ficou surpreso quando soube que os autores do crime eram aqueles ‘hippies’ que estavam acampados a poucos metros de sua casa.

O maior castigo para um sujeito como Manson seria seu total esquecimento. Mas isso nunca aconteceu. Filmes, livros, documentários e músicas de sua autoria foram lançados nos anos seguintes.Tornou-se uma celebridade da pior maneira.

Seitas
Além disso, seitas comandadas por assassinos e suicidas se alastraram pelos EUA e seu legado ainda nos assombra.

Os ‘natural born killers’ nunca vão deixar de existir, mas reverenciá-los é o tipo da coisa que demonstra que esse mundo está (ou sempre esteve) do avesso!!!   

Obs: Enquanto escrevo isso aqui, Quentin Tarantino dá início a produção de um filme que terá os assassinatos da família Manson como pano de fundo. Deus nos acude!!!


sexta-feira, 17 de novembro de 2017

O Brasil de João


Entre tantas noticias ruins desse Brasil varonil, a mais recente envolve um dos grandes nomes da música mundial. João Gilberto, aos 86 anos, está tão enrolado em dívidas e problemas de saúde que seus filhos mais velhos resolveram interditá-lo na Justiça.

Devendo milhões a um banco e sem condições psicológicas de tomar decisões, João, o herói/inventor da bossa nova, parece não pertencer mais a esse planeta.

João é de uma geração de ouro que colocou o Brasil nos trilhos da modernidade. Longe de exotismos e brejeirices, o baiano levou a música brasileira para um patamar único, universal e, ao mesmo tempo, muito particular.

Invenção
Costumo dizer que a bossa nova, mais do que um gênero, foi uma forma que João inventou de cantar e tocar samba. Nada se compara ao que ele fez. O sujeito mudou tudo de uma forma tão doce e minimalista que assusta pela sofisticação.

Intérprete de voz pequena e mãos precisas, o músico utilizou seus limites para criar uma constelação sonora. Entender sua música é compreender também que ‘less is more’, como certa vez disse Miles Davis.

O mundo de João não existe mais. Seus (poucos) amigos e contemporâneos já partiram e o Brasil de hoje parece não entender o seu legado.


Solidão
Excêntrico, beirando a maluquice, o baiano nunca foi um exemplo de simpatia e boas maneiras nos palcos. E sua incompatibilidade com a vida ordinária resultou em solidão e caos financeiro.

Nestes tempos sombrios e medíocres, chega a ser sintomático ver um ícone como ele sendo retratado como um velho moribundo.

O Brasil de ‘Chega de Saudade’ era o país do futuro, com JK, Niemeyer, João, Tom Jobim e Vinicius à frente. Passados quase 60 anos, confirmou ser a nação que vive um eterno romance de desilusão, como bem lembrou o escritor Milton Hatoum. E bem feito pra nós!


sexta-feira, 10 de novembro de 2017

'Sem futuro', punk rock chega aos 40


O punk rock foi programado pra durar pouco. Pregando a filosofia niilista do ‘no future for you’, verso clássico da banda inglesa Sex Pistols, tinha tudo pra desaparecer da face da Terra em tempo recorde. Mas chega surpreendentemente aos 40 anos de vida.

Claro que bem antes dos Sex Pistols lançarem ‘Never Mind the Bollocks’, em 1977, muita gente já tinha feito aquele tipo de som. MC5, Stooges, New York Dolls, Death e, principalmente, os Ramones, foram pioneiros naquela sonoridade suja, rápida e rasteira que os ingleses souberam tão bem reciclar.

O diferencial é que os Sex Pistols tinha toda uma estética por trás, comandada de forma maquiavélica por um sujeito chamado Malcolm Mclaren, dono de uma loja de roupas em Londres chamada SEX.

Malcolm e sua então esposa, a estilista Vivianne Westwood, compôs com riqueza de detalhes o guarda roupa ideal de uma banda local que atendia pelo nome de The Strand. Mas que, logo em seguida, mudaria para Sex Pistols.

Drag queens
É claro que o empresário não inventou a estética punk do nada. Pouco antes, esteve nos EUA onde conheceu os New York Dolls, uma versão drag queen de Rolling Stones, mais barulhenta e selvagem.

Malcolm sacou que aquilo era o futuro. Voltou para Londres cheio de ideias e trambicagens. O punk precisava ser mau, porém embrulhado de forma correta num pacote pronto para ser consumido.  

Um golpe de mestre, enfim, que resultou numa obra prima da fuleiragem. ‘Never Mind the Bollocks’ foi uma bomba de efeito rápido que virou o rock de ponta-cabeça.

Para se ter uma ideia do efeito daquelas músicas na cabeça dos britânicos, assista ao filme ’24 Hour Party People - A Festa Nunca Acaba’, espécie de biografia de Tony Wilson, dono da lendária gravadora Factory.



Gatos pingados
Uma das cenas iniciais mostra um show dos Sex Pistols na cidade de Manchester. Na plateia, vinte gatos pingados que depois daquilo, resolveram montar uma banda. No caso de Tony Wilson, montou um selo que lançou grupos como Joy Division, New Order e Happy Mondays.

O Sex Pistols acabou logo depois por problemas de dinheiro, drogas e brigas na justiça. Deixaram  para a posteridade um dos filmes mais cara de pau da história da música: ‘The Great Rock’n’roll Swindle’. Ou seja, ‘A Grande Farsa do Rock’. Precisa dizer mais?


quinta-feira, 26 de outubro de 2017

A ressurreição de Liam Gallagher



Liam Gallagher está de volta. E dessa vez com uma notícia inesperada: o cara lançou um disco realmente bom. Lá na Inglaterra, não se fala em outra coisa.

Enquanto nesse lado do Atlântico, se discute o fim do rock, das guitarras, das casas de som autoral e do Pânico na TV, o quarentão de Manchester surfa na crista da onda (para usar um termo velhusco).

‘As You Were’, sua estreia solo depois de deixar o Oasis e o natimorto Beady Eyes, já é aclamado como um dos discos do ano. Além de encabeçar as paradas de sucesso na terra da rainha desde que foi lançado, a versão em vinil foi a mais vendida no Reino Unido nos últimos 20 anos.

O que o álbum tem de tão especial? Longe de ser revolucionário, ele é o que poderíamos chamar de honesto. Ao contrário de bandas como Arcade Fire e Queens of Stone Age, que foram em busca de produtores hypados e efeitos eletrônicos para ‘modernizar’ seu som, Liam fez um disco sem firulas.

O sujeito é revisionista, não tem jeito. Desde a época do Oasis, ele e o irmão Noel não fizeram outra coisa a não ser emular bandas clássicas como Beatles e Kinks, além de contemporâneos como Stone Roses e Teenage Fanclub com talento e cara de pau.



Boca suja
A surpresa é que, pela primeira vez, Liam não fica à sombra do irmão mais velho e comprova que debaixo de toda aquela arrogância e boçalidade, existe um compositor de fibra. E, acreditem, está cantando melhor do que nunca.

Claro que, marqueteiro do jeito que é, o inglês boca suja aproveitou as entrevistas de divulgação do disco para detonar medalhões como Pearl Jam e Queen. Se estivesse mais uma vez na sarjeta ou se recuperando de algum vício ou casamento desfeito, ninguém daria a mínima.

Porém, Liam ressurge com uma obra surpreendente que agradou novas e velhas gerações. Não é por acaso que periódicos ‘tiozões’ como o New Musical Express (NME) grudaram no sujeito feito carrapatos.

A mais recente empreitada foi uma edição especial do NME, versão Gold, que colocou o músico como seu editor e na qual ele fala sobre sua vida e sobre os artistas que o influenciaram.

O fato é que, mesmo cambaleante, o rock mais uma vez é destaque na Inglaterra. O que comprova que, assim como o samba de Nelson Sargento, ele agoniza, mas não morre. E que nessa vida, tudo é ciclico. 


Para os fãs brasileiros, vale lembrar que Liam é uma das atrações do Lollapallooza 2018. Fiquem ligados...


quinta-feira, 19 de outubro de 2017

O show mais doido do White Stripes


Uma das bandas mais representativas do rock dos anos 2000 foi o White Stripes. Formado em 1997 em Detroit por Jack White e sua ex-esposa Meg White, a dupla forjou um rock simples e garageiro, baseado no blues e no folk. O grupo acabou em 2011, Meg desapareceu dos holofotes e Jack produz a todo vapor em Nashville, no Tennessee.

Os norte-americanos passaram pela América do Sul duas ou três vezes, mas em uma dessas turnês realizaram aquele que é considerado o show mais surreal de suas carreiras. O ano era 2005, o país era Argentina, a cidade Puerto Iguazu e o local, um clube minúsculo no meio do nada chamado La Reserva.

Quem viu, diz que foi um das apresentações mais doidas que já testemunharam. Imagine uma banda internacional no auge da carreira que decide se apresentar numa currutela na Tríplice Fronteira - entre Brasil, Argentina e Paraguai - para algumas centenas de fãs a preços populares?


Sortudos
Pois dois desses sortudos que estiveram em La Reserva na noite de 26 de maio, foram os jornalistas paranaenses Luis Fernando Wittemburg e Fabio Galiotto, com quem tive o prazer de trabalhar em São Sebastião do Ribeirão Preto.

Essa história nunca saiu da minha cabeça e pedi para que Luis Fernando contasse para o blog. Pois bem:

“Nós morávamos em Foz do Iguaçu, mas gostávamos mesmo era do Paraguai e Argentina. Mas a gente não ia pras baladas, bebíamos nos bares das ruas de Puerto Iguazu. Um dia, um dos nossos amigos da Globo nos avisou que ia ter show do White Stripes no La Reserva. Ficamos abismados, porque não era o estilo do lugar”, lembra Luis.

O jornalista conta que o La Reserva era uma casa de música ‘disco’,  feita de madeira, com um apelo meio rústico, onde ele e os amigos iam sempre tomar ‘umas e comprar queijo e azeitona’. “Aproveitamos e garantimos o ingresso: trintão”, diz.


Turnê
O show fazia parte de uma turnê do duo pela América do Sul. O diferencial é que, além de capitais como Buenos Aires e São Paulo, Jack e Meg decidiram se apresentar em locais inóspitos para registrar num DVD que iriam lançar.

O palco, ou seja lá o que era aquilo, foi montado na parte de fora do clube. Por causa do frio, colocaram de forma improvisada, lonas de caminhão em volta para proteger banda e público. Luis acredita que não havia mais do que 500 pessoas no local.

“O lugar era aberto. Lá é um calor do cão, mas, no frio, era um frio do cão. E foi no fim de maio, então, fez um frio do caralho. A gente entrou, tinha muito espaço vazio. Ficamos bem perto do palco, não só porque tinha pouca gente, mas também porque não tinha muito espaço pra ficar longe”, diverte-se Luis.

O jornalista lembra que ele ficou tão próximo do palco, a poucos metros de Jack e Meg, que o som alto chegava a incomodar.

“Cara, eu achei ótimo. O Jack tem muita energia e empatia e a Meg parecia uma autista (ahahah). Mas é o estilo dela, né?”, comenta Luis.  



Saudades
Luis, que hoje vive em Londrina, lembra com carinho o tempo em que morou em Foz do Iguaçu.“Era divertido viver lá. Entre todas as esquisitices que a Tríplice Fronteira oferece, teve o show do White Stripes e um do Café Tacuba também, no Paraguai”, recorda, referindo-se a excelente banda mexicana.

“Gastamos R$ 120 para ir de busão, comer, beber, comprar os ingressos e voltar. Ah, e ainda dormimos num hotel no centro de Assunção”, diz.

Bom, essa história, a gente conta num outro dia. Valeu, Luis!!!!!!








sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Bendito Macalé!




O carioca Jards Macalé - Macau para os íntimos - se apresenta neste sábado em São Sebastião do Ribeirão Preto no Armazém Baixada. Meus sinceros parabéns aos envolvidos. Jards é um dos grandes nomes da nossa dita MPB que nunca teve o devido reconhecimento do público. 

Não que ele fizesse muita questão de ser popular. Seu samba torto, insano e poeticamente explosivo passa longe de modas e ‘cultos’ que transformaram a música brasileira num celeiro de espertalhões e capitanias hereditárias. Por anos, foi considerado maldito pela imprensa e gravadoras, mas Macau é, na verdade, uma benção para esse país. 

A seguir, cinco bons motivos para que você, leitor, não perca esse show:

1 – ‘Jards Macalé apresenta a Linha da Morbeza Romântica em Aprender a Nadar’ é o meu disco preferido dele. Comprei o LP ainda nos anos 1980, quando eu era um adolescente que se lixava para a MPB.  Mas o disco é tão maluco e bonito que me pegou de jeito. Ouça inteiro!



2 – ‘Farinha do Desprezo’ é a música que mais gosto de Jards. Um samba/jazz/rock com uma letra absurda e meio autobiográfica. Rebelde entre os rebeldes, o músico comeu muito da farinha do desprezo. Mas com muito estilo, claro!



3 – Nos anos 1980, Jards estava numa ‘bad’ tão grande que chegou a pensar em se matar. João Gilberto o tirou da depressão e, em seguida, nosso herói soltou um dos melhores discos de ‘covers’ da música nacional. ‘Quatro Batutas & Um Coringa’ só tem pérolas do samba de raiz. Uma das faixas que mais gosto é ‘Acertei no Milhar’, que ficou famosa na voz de Moreira da Silva, ídolo supremo de Jards.



4 – ‘Vapor Barato’, escrita por Jards e pelo amigo/poeta Wally Salomão, é a música mais famosa do carioca. A versão de Gal Costa ainda é imbatível. Confiram na voz da baiana!



5 – Claro que a gente não pode esquecer da clássica ‘Gotham City’, escrita por Jards e Capinam. Essa versão ao vivo de 2009 em que Jards usa uma máscara do Batman, é sensacional!



sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Mercadão é o shopping do povo




Não me canso de dizer que o Mercado Municipal de Ribeirão Preto (SP) é o melhor shopping center da cidade. É o local mais democrático e gastronomicamente rico da região. É um retrato verdadeiro do que o Brasil tem de melhor.

Na quinta-feira, completou 117 anos, o que é algo surpreendente numa cidade ‘noveau-riché’ como São Sebastião do Érrepê. Passou por poucas e boas neste tempo todo, como constantes enchentes e um incêndio que destruiu o prédio original em 1942.

Esse que nós conhecemos atualmente foi construído em 1958 na gestão do prefeito Costábile Romano e projetado pelo engenheiro/arquiteto Jayme Zeiger. Zeiger era um visionário que, entre outras coisas, construiu o Teatro de Arena da cidade.

                                          O melhor pastel de Ribeirão Preto (SP)

Problemas
O Mercadão sofreu por anos com problemas em sua estrutura e descaso da Prefeitura. Lembro que na década de 1990, era tido como um espaço decadente. Apenas nos últimos anos é que, aos trancos e barrancos, começou a se reerguer e tentar evitar sua descaracterização: ou seja, impedir a entrada de produtos ‘made in China’ em suas lojas.

É uma pena que anos atrás, ao invés do município investir numa ampla reforma e modernização a exemplo do que foi feito em São Paulo, um ‘Novo Mercadão’ foi construído em Ribeirão pela iniciativa privada.

Trata-se de um mercadão ‘gourmet’, feito para a turma endinheirada com pouca paciência para lojas de candomblé e de fumo de corda.

Quando era garoto, minha vó costumava me levar ao Mercado Municipal de São Paulo. Aquele lugar me dava medo de tão decrépito. Hoje, é um dos orgulhos da cidade. Um exemplo a ser seguido.


Nosso Mercadão merece! 

Isso aí são jurubebas 

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Sem Husker Dü, não haveria Nirvana



Grant Hart, ex-baterista do Husker Dü, e responsável por 50% das belas composições da banda está morto. Câncer, aos 56 anos. Era de um talento sem tamanho, com sua voz intensa e melódica, mas há muito tempo não produzia nada de destaque. 

Na verdade, desde que a banda norte-americana acabou, há 30 anos, Hart praticamente desapareceu da face da Terra. Seu parceiro e desafeto por anos, Bob Mould, foi muito mais prolífico ao montar o grupo Sugar nos anos 1990 e manter-se na ativa até hoje. 

O Husker Dü foi uma das melhores bandas do punk norte-americano, simplesmente por não se limitar aos clichês do gênero. Power trio formado por caipiras de Minneapolis fãs de Ramones., Beatles e Birds, o grupo começou quase hardcore com o clássico 'Zen Arcade', mas foi inserindo melodias, arranjos psicodélicos e muito folk em suas canções. 

O último disco, o sensacional 'Warehouse: Songs & Stories'' é  um classico absoluto, e influenciou bandas como Pixies, Dinosaur Jr., Green Day e, claro, Nirvana. A primeira vez que ouvi Nirvana, a banda que veio em minha mente foi o Husker Dü. 

Urgência

Estava tudo lá: a urgência, o gancho pop, a raiva punk e a pegada beatle. E assim como o Nirvana, o sucesso colocou fim ao Husker Dü. Foi um dos primeiros grupos do underground dos EUA a assinar com uma grande gravadora. E isso foi um problema. Logo após a boa recepção de 'Candy Apple Gray', disco de 1986 , Hart viciou-se em heroína. Com isso, as brigas entre ele e Mould se intensificaram. 

Em 'Warehouse', um álbum duplo com pérolas de fio a pavio, o mundo parecia aos seus pés. Mas Hart e Mould não se suportavam mais por questões que envolviam ego e drogas. A banda acabou no mesmo ano, mas deixou um legado único. 

Descande em paz, Grant Hart...





quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Rei David contra a censura nacional




Toda vez que eu ouço a palavra ‘censura’ eu lembro do grande David Cardoso, diretor, ator e produtor de cinema que fez fama e fortuna na Boca do Lixo em São Paulo.

David ganhou tanta grana com filmes de sacanagem na década de 1970 que recebeu o apelido de ‘Rei da Pornochanchada’. Ou seja, em plena ditadura militar, o sexo corria solto nas telas do Brasil com absoluto sucesso.

O mais incrível é imaginar que ao mesmo tempo em que estrelava putarias, Cardoso bancava o galã nas novelas da Globo. O que o pessoal do MBL acharia disso?

Anos 1980
Mas ai vieram os anos 1980, ano da “abertura política”, e após fracassos de bilheteria, David decidiu  voltar a sua terra natal, o Mato Grosso do Sul, para investir em imóveis.

Há dez anos, conversei com ele por telefone para uma reportagem sobre uma doação que ele fez de seu acervo cinematográfico a um museu de cinema em Batatais.

Aliás, o museu não deu em nada e esse papo de doação foi apenas um gancho para que eu pudesse ouvir de David, as histórias picantes de sua vida mirabolante. Não sei se ele já tinha tomado alguns gorós (‘Bebo todo dia’, me confirmou), mas ele entregou todo mundo na conversa.



Comeu todas e todos
Uma das frases clássicas foi essa aqui: 'Comi muita gente sim, a ..., a ... e a... E acho que tinha uns viadinhos no meio também. Naquela época era assim, né. Não tinha preconceito, não", disse.

Claro que tive que “filtrar” metade da conversa, porque se eu desse nomes aos bois, o jornal corria o risco de tomar um belo de um processo (Tá vendo a censura ai?). 

Lembro que ao final, eu já não me aguentava de tanto rir, até que o rei David resolveu me contar o célebre encontro dele com o lendário diretor, produtor e ator Amácio Mazzaropi.



Jovenzinho
Nos anos 1960, logo que chegou a São Paulo em busca de emprego como ator, David foi informado que Mazzaropi adorava “jovenzinhos”, por isso poderia arranjar algum serviço para o fedelho.

David foi lá no escritório de Mazza que, além de atendê-lo, ainda o convidou para o aniversário da mãe que seria naquela mesma noite. O jovem apareceu na hora marcada, 19h, mas só encontrou o bom e velho Amácio em casa, todo pimpão.

Mazzaropi não se fez de rogado e, na maior cara de pau, colocou o bolero ‘Perfume de Gardênia’ na vitrola e convidou David para uma contradança. O rapaz hesitou, mas de olho no emprego, topou dançar agarradinho com o sujeito.

“Mazzaropi era baixinho e colocou a cabeça no meu peito, de olhos fechados. Imagina a cena”, lembra David, que jura que a dança não durou muito, porque alguém tocou logo a campainha, para a tristeza do Jeca.

 O fato é que depois dessa, David trabalhou como continuísta e diretor de produção na empresa de Mazza, a Pam Filmes. Bons tempos!





Tamo aqui!

Os melhores de um ano caótico!

Sim, gente amiga, Saturno Pop também organizou uma lista dos melhores do ano. A diferença é que em tempos virtuais, resolvemos resumir as es...

Saturno Pop is Alive