quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Da Boca do Lixo para o mundo



Este mês comemoram-se os 50 anos de um dos melhores e mais anárquicos filmes nacionais de todos os tempos. Estou falando de 'O Bandido da Luz Vermelha', dirigido por Rogério Sganzerla no auge de seus 22 aninhos.

Muito já se falou sobre esse filme, mas o fato é que ele tinha tudo pra ser um fracasso retumbante.  Maluco, desrespeitoso, radical, pop e visceralmente terceiro mundista, o longa inspirado na vida do criminoso João Acácio Pereira da Costa foi o que os especialistas chamariam de um inesperado 'case de sucesso'.

Filmado na região da Boca do Lixo em São Paulo, terreno fértil para a pornochachada anos depois, a 'fita' de Sganzerla levou milhares de brasileiros ao cinema, contrariando a lógica de que película de autor era prejuízo na certa em nosso país. Vide as obras consagradas porém pouco lucrativas da turma do Cinema Novo.

Paulo Villaça encarnando o Bandido nas telas nacionais 
Vaca Sagrada 
Aliás, o sucesso de Sganzerla irritou ninguém menos do que Glauber Rocha, vaca sagrada das igrejas cinemanovistas. Glauber esculachou o jovem cineasta, dizendo que sua obra-prima era pastiche do cinema underground novaiorquino, e chamou aquele novo movimento tupiniquim de 'cinema udigrudi'. Inveja, claro!

Entrevistei Sganzerla em 1996 pra falar sobre João Acácio, o verdadeiro Luz Vermelha que havia deixado a cadeia depois de 30 anos. Por telefone, meu herói/cineasta se comunicava de um jeito meio estranho no quarto de um hotel em Gramado, onde concorria a algum prêmio.

Comparei seu filme a 'Pulp Fiction' de Tarantino, a sensação cinematográfica naqueles anos e Sganzerla não achou muita graça. Começou um discurso mezo sócio-artístico-anárquico que me lembrou ninguém menos do que o próprio Glauber Rocha, seu ídolo e nêmesis. 

Rogério Sganzerla: diretor e roteirista do filme que lhe deu fama e glória 
Reconhecimento
João Acácio foi logo depois assassinado em sua terra natal, Joinville. Rogério Sganzerla,  que era catarinense, morreu de câncer em 2004, sentindo-se injustiçado e lembrado sempre como o diretor de uma obra só. O que não é verdade, já que dirigiu outros longas que, infelizmente, não chegaram ao reconhecimento de sua estréia.

O longa ganhou uma versão dirigida pela atriz e viúva de Sganzerla, Helena Ignez, em 2010, chamada  'Luz das Trevas', mas nem me atrevi a ver. Clássico é cllássico, pô!

Conheci 'O Bandido da Luz Vermelha' graças ao disco 'Psicoacústica' do Ira! que era assumidamente influenciado pelo filme e trazia trechos de áudios da película. Nunca mais fui o mesmo e meu amor pelo cinema brasileiro começou ali, aos trancos e barrancos.  Vida longa ao 'Bandido da Luz vermelha' e a Rogério Sganzerla!!!






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