sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Há meio século, Gabo nos tirou da solidão



Essa quase passou batido, mas a verdade é que em 2017 também se comemora meio século de um dos maiores livros já escritos: ‘Cem Anos de Solidão’.

Foi o romance que colocou um colombiano desconhecido, Gabriel Garcia Marquez (1927-2014), no olimpo da Literatura mundial e, de quebra, deslocou a periférica América do Sul para o centro das atenções.

Era a vingança dos autores renegados e subnutridos do Terceiro Mundo, sempre vistos com pena ou exotismo pela turma do andar de cima. Ironicamente, Gabo - como era chamado pelos amigos - nos tirou da solidão.

Claro que antes de Garcia Marquez, tinhamos Jorge Luis Borges e Júlio Cortázar, pioneiros do tal realismo mágico (termo amaldiçoado por muitos ‘hermanos’). Mas o colombiano foi o primeiro ‘pop star’ do grupo.

Fenômeno
Desde seu lançamento, em maio de 1967, ‘Cem Anos de Solidão’ tornou-se um fenômeno de vendas. No livro de entrevistas ‘Cheiro de Goiaba’, Garcia Marquez conta ao seu amigo Plinio Apuleyo Mendoza que esperava que o livro vendesse, no máximo, cinco mil cópias. Um recorde já que, até então, seus romances não ultrapassavam mil exemplares.

“A (editora) Editorial Sudamericana foi um pouco mais otimista. Calculou que venderiam oito mil. Na realidade, a primeira edição foi vendida em 15 dias e numa única cidade: Buenos Aires”, lembra ‘Gabo’, que na época que o escreveu, quarentão e desempregado, dependia da mulher para poder pagar as contas.

Ou seja, era tudo ou nada.



Atrás de Dom Quixote
Mas o destino foi benevolente para aquele homem e o resto, todo mundo já sabe. Já foram computados até agora, mais de 50 milhões de exemplares vendidos e ‘Cem Anos de Solidão’ foi considerada a segunda obra mais importante de toda a literatura hispânica, ficando apenas atrás de ‘Dom Quixote de la Mancha’.

De quebra, o escritor ainda faturou o Nobel de Literatura em 1982.

Mas o curioso é que quanto mais o livro fazia sucesso, mais Gabo ficava incomodado. Em ‘Cheiro de Goiaba’, ele afirma que a fama “perturba o senso de realidade, talvez quase tanto quanto o poder”. Logo em seguida, faz comentários pouco elogiosos ao seu romance de maior sucesso, chamando-o inclusive de ‘superficial’.

“Você parece desprezá-lo”, observa o amigo Plinio Apuleyo.

“Não, mas o fato de saber que está escrito com todos os truques da vida e com todos os truques do ofício fez-me pensar, desde antes de escrevê-lo, que poderia superá-lo”, responde o colombiano.

‘Derrotá-lo’, insiste Plinio.

“Sim, derrotá-lo’, conclui Gabo.

O fato é que essa luta para 'derrotar' 'Cem Anos de Solidão' durou o resto da vida do escritor. Ele conseguiu? Quem sabe...




2 comentários:

  1. Belo post, Régis! O "Cem anos..." é o meu preferido! Quando cheguei ao final da leitura caí num redemoinho ;o) Cid Machado

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    1. É um livro fantástico em todos os sentidos. Uma obra de arte, enfim. Grande abraço, Cid!

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