Essa quase passou batido, mas a verdade é que em 2017
também se comemora meio século de um dos maiores livros já escritos: ‘Cem Anos
de Solidão’.
Foi o romance que colocou um colombiano desconhecido,
Gabriel Garcia Marquez (1927-2014), no olimpo da Literatura mundial e, de
quebra, deslocou a periférica América do Sul para o centro das atenções.
Era a vingança dos autores renegados e subnutridos do
Terceiro Mundo, sempre vistos com pena ou exotismo pela turma do andar de cima.
Ironicamente, Gabo - como era chamado pelos amigos - nos tirou da solidão.
Claro que antes de Garcia Marquez, tinhamos Jorge Luis
Borges e Júlio Cortázar, pioneiros do tal realismo mágico (termo amaldiçoado
por muitos ‘hermanos’). Mas o colombiano foi o primeiro ‘pop star’ do grupo.
Fenômeno
Desde seu lançamento, em maio de 1967, ‘Cem Anos de
Solidão’ tornou-se um fenômeno de vendas. No livro de entrevistas ‘Cheiro de
Goiaba’, Garcia Marquez conta ao seu amigo Plinio Apuleyo Mendoza que esperava
que o livro vendesse, no máximo, cinco mil cópias. Um recorde já que, até
então, seus romances não ultrapassavam mil exemplares.
“A (editora) Editorial Sudamericana foi um pouco mais
otimista. Calculou que venderiam oito mil. Na realidade, a primeira edição foi
vendida em 15 dias e numa única cidade: Buenos Aires”, lembra ‘Gabo’, que na
época que o escreveu, quarentão e desempregado, dependia da mulher para poder
pagar as contas.
Ou seja, era tudo ou nada.
Atrás de Dom Quixote
Mas o destino foi benevolente para aquele homem e o resto, todo mundo já sabe. Já foram computados
até agora, mais de 50 milhões de exemplares vendidos e ‘Cem Anos de Solidão’
foi considerada a segunda obra mais importante de toda a literatura hispânica,
ficando apenas atrás de ‘Dom Quixote de la Mancha’.
De quebra, o escritor ainda faturou o Nobel de Literatura
em 1982.
Mas o curioso é que quanto mais o livro fazia sucesso,
mais Gabo ficava incomodado. Em ‘Cheiro de Goiaba’, ele afirma que a fama
“perturba o senso de realidade, talvez quase tanto quanto o poder”. Logo em
seguida, faz comentários pouco elogiosos ao seu romance de maior sucesso,
chamando-o inclusive de ‘superficial’.
“Você parece desprezá-lo”, observa o amigo Plinio
Apuleyo.
“Não, mas o fato de saber que está escrito com todos os
truques da vida e com todos os truques do ofício fez-me pensar, desde antes de
escrevê-lo, que poderia superá-lo”, responde o colombiano.
‘Derrotá-lo’, insiste Plinio.
“Sim, derrotá-lo’, conclui Gabo.
O fato é que essa luta para 'derrotar' 'Cem Anos de Solidão' durou o resto da vida do escritor. Ele conseguiu? Quem sabe...
Belo post, Régis! O "Cem anos..." é o meu preferido! Quando cheguei ao final da leitura caí num redemoinho ;o) Cid Machado
ResponderExcluirÉ um livro fantástico em todos os sentidos. Uma obra de arte, enfim. Grande abraço, Cid!
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