Entre tantas noticias ruins desse Brasil varonil, a mais
recente envolve um dos grandes nomes da música mundial. João Gilberto, aos 86
anos, está tão enrolado em dívidas e problemas de saúde que seus filhos mais
velhos resolveram interditá-lo na Justiça.
Devendo milhões a um banco e sem condições psicológicas
de tomar decisões, João, o herói/inventor da bossa nova, parece não pertencer
mais a esse planeta.
João é de uma geração de ouro que colocou o Brasil nos
trilhos da modernidade. Longe de exotismos e brejeirices, o baiano levou a
música brasileira para um patamar único, universal e, ao mesmo tempo, muito
particular.
Invenção
Costumo dizer que a bossa nova, mais do que um gênero,
foi uma forma que João inventou de cantar e tocar samba. Nada se compara ao que
ele fez. O sujeito mudou tudo de uma forma tão doce e minimalista que assusta
pela sofisticação.
Intérprete de voz pequena e mãos precisas, o músico
utilizou seus limites para criar uma constelação sonora. Entender sua música é
compreender também que ‘less is more’, como certa vez disse Miles Davis.
O mundo de João não existe mais. Seus (poucos) amigos e
contemporâneos já partiram e o Brasil de hoje parece não entender o seu legado.
Solidão
Excêntrico, beirando a maluquice, o baiano nunca foi um
exemplo de simpatia e boas maneiras nos palcos. E sua incompatibilidade com a
vida ordinária resultou em solidão e caos financeiro.
Nestes tempos sombrios e medíocres, chega a ser
sintomático ver um ícone como ele sendo retratado como um velho moribundo.
O Brasil de ‘Chega de Saudade’ era o país do futuro, com
JK, Niemeyer, João, Tom Jobim e Vinicius à frente. Passados quase 60 anos, confirmou
ser a nação que vive um eterno romance de desilusão, como bem lembrou o
escritor Milton Hatoum. E bem feito pra nós!
O pior é um banco emprestar 10 milhões pro cara em troca de direito autoral , sabendo que o cara tava lele !!
ResponderExcluirTriste demais, Deya... Esse é o Brasil-sil-sil-sil!!1
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