quarta-feira, 21 de março de 2018

Surfer Rosa chega aos 30




Em 1988, eu estava prestes a entrar na faculdade e era um sujeito musicalmente radical. Num dia qualquer, li em algum lugar sobre uma banda de Boston (EUA) que estava se tornando a grande sensação do rock independente no planeta (na época, chamavam de ‘alternative rock’). O nome era Pixies...

A extinta revista Bizz então publicou uma resenha colocando ‘Surfer Rosa’ - o álbum de estreia do quarteto e que comemora 30 anos neste dia 21 de março - no topo do mundo. Por um milagre da natureza, a BMG Ariola lançou o disco por aqui.

Achei o vinil numa loja da Mesbla e comprei na hora. Quando cheguei em casa e coloquei aquela belezinha pra tocar na minha vitrola, entrei em estado de choque.

O baixo cavalar e a bateria zeppeliana de ‘Bone Machine’, a música que abria o disco, me deixou atordoado. Era como se a banda punk Husker Dü resolvesse fazer hard rock com versos surrealistas.

 “Eu estava conversando com um padre sobre beijinhos/ Ele me comprou um refrigerante/ E tentou me molestar no estacionamento’, dizia a letra escrita por Black Francis, gordinho freak e gênio dessa porra toda.  Lembre-se que anos depois, Boston, cidade católica, foi cenário do maior escândalo de pedofilia da história da igreja nos EUA.


Esquizofrenia
Depois seguem ‘Break My Body’, as insanas ‘Something Against You’ e ‘Broken Face’ e a magistral ‘Gigantic’, escrita e cantada lindamente pela baixista Kim Deal, que assinava ‘Mrs John Murphy’ à época. O lado A encerra com a ‘River Euphrates’, com a guitarra esquizofrênica de Joey Santiago surtando.

O lado B abre com ‘Where’s My Mind?’, hino dos desmiolados de todo o planeta. É uma daquelas músicas que coloca Black Francis entre os grandes do rock mundial. Influenciou praticamente todo o mundo indie dos anos 90. 

Aliás, ‘Surfer Rosa’ é uma espécie de Bíblia para quem quiser entender a música pré-internet. Kurt Cobain nunca escondeu sua paixão pelo disco e tudo o que ele aprendeu com o Pixies está em ‘Nevermind’.

David Bowie, que também adorava a banda de Boston e regravou 'Cactus' (segunda do lado B de 'Surfer Rosa'), ficou chocado quando ouviu ‘Smell Like Teen Spirit’ pela primeira vez. Para ele, uma cópia descarada da ”dinâmica Pixies”.

Polêmicas à parte, a influência do disco está presente em grupos como Weezer, Smashing Pumpkins, Radiohead, White Stripes e a deusa P.J. Harvey, só pra citar os mais famosos. O produtor do disco, o mal humorado Steve Albini, tornou-se uma espécie de Phil Spector da época e foi convidado a gravar um monte de gente, inclusive Nirvana.

De minha parte, o disco simplesmente mudou tudo. Foi graças a Surfer Rosa que passei a prestar a atenção em bandas como Led Zeppelin e Beach Boys. E foi ali que comecei a entender que era possível ser pop e maluco. Enfim, um clássico. 






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